Semana passada eu peguei um táxi, o qual o motorista ouvia Nélson Gonçalves. Por trás dos
invocados óculos escuros, conversador que só, ele foi logo falando sobre a sua
vida.
Contou
que, apesar da idade avançada, trabalhava há pouco tempo como motorista de
praça. Que tinha começado a batalhar cedo na vida e durante anos havia sido
dono de bar, atividade que lhe era inapropriada, pois "raposa não pode
negociar com galinha", disse. Foi boêmio, mas hoje em dia achava-se
cansado das farras e das noites mal dormidas. Mesmo assim, ainda exalava um
bafo danado de cana.
Seu
Luís - era esse o nome dele - contou-me sobre a sua patroa, filhos, netos,
bisnetos, cachorro e papagaio. Sobre os cabarés de antigamente que frequentava
costumeiramente com os amigos de copo e de cruz. E olha que a corrida nem longa
foi.
Finalizou,
dizendo:
- Quando vim ao mundo
eu não nada trouxe. Quando eu for embora, nada levarei!
A
corrida deu oito reais e eu paguei dez.
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