domingo, 2 de setembro de 2012

Jorjão e a Lei Maria da Penha



Se havia algo que deixava o delegado Carlos Henrique consternado era choro de mulher. Ainda mais quando ela tinha 30 anos, era bonita e sensual:

- Mas, o que foi que aconteceu, meu anjo? Conta pra mim...
- Ele me bateu! - Fazendo beicinho, Maristela respondeu.
- Ele, quem? - Trincando os dentes, respondeu o delegado.
- O Jorjão!
- E quem é esse Jorjão?! - Pegando ar.
- É... Bem, como eu posso dizer? Ah, deixa pra lá, doutor. Acho melhor não registrar nada...

Doutor Carlos Henrique pousou a mão naquele ombro macio, carnudo e disse:

- Posso lhe dizer uma coisa? - Maristela ficou em silêncio e o delegado insistiu.
- Com toda a experiência que tenho nesses casos?
- Pode! - Balançando a cabeça afirmativamente.
- Se você não denunciar esse patife, ele vai te bater de novo.
- O senhor acha? - Abrindo o olho roxo.
- Tenho certeza, meu doce... - Alisando o hematoma - Aliás, vou expedir uma guia para o Instituto Médico Legal fazer o exame de corpo de delito. Está horrível... 
- O senhor ainda não viu foi nada. - Sorrindo, apesar dos pesares.
- Ele fez pior ainda? - Maristela pôs a mão na coxa.
- Me deu um chute bem aqui...
- Ficou a marca?
- Uma mancha enorme.
- Entre aqui no meu gabinete, que eu quero ver.
- Então, feche a porta, doutor.

Doutor Carlos Henrique deu três voltas com a chave e mais quatro com o ferrolho. Tapou o buraco da fechadura com uma fita adesiva:

- Assim está bom?
- Ótimo. Agora, ligue o ar e prepare uma bebida para nós dois.
- Vinho?

Maristela mordeu o lábio ferido e exigiu:

- Se tiver uísque, eu prefiro.
- Tenho sempre um litro guardado para essas emergências, meu anjo. Puro ou com gelo?
- Puro.

O delegado serviu duas doses. Maristela pegou a sua e bebeu tudo em apenas três goles.

- Vou tirar a roupa. - Estalando os beiços.
- Mostra tudo, meu doce. Quero ver todos os hematomas.
- Apague aquela luz ali.
- Deixa só a do corredor... Isto aqui tá parecendo estúdio da Playboy... Tira tudo, meu anjo, tira...
- Tô tirando... Pronto!

O delegado, nervoso:

- Preciso acender. Quero ver de perto para poder descrever nos autos... Epa!!!
- O que foi, doutor?
- Você é homem, cara!
- É com isso que o Jorjão não se conforma, doutor!!!

Enviada pelo Chico Militão.

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