Das Graças é mesmo que ta vendo a tal da Dona Redonda, aquela da Saramandaia, que não consegue parar de comer. Gulosa que só, passa o dia inteiro trancada em sua alcova, nutrindo insaciavelmente a sua preguiça, como a maioria dos obesos, que só são obesos porque gostam de comer e por isso comem muito. Para ela, as 7 maravilhas do mundo são: comer, encher o bucho, fazer um lanchinho, merendar, bater um prato, se alimentar e matar a fome.
Como quase não sai de casa, Das Graças libera seu esposo José Eugênio, sem problema, para ir aos cantos só e desacompanhado.
José Eugênio faz o tipo do cabra invocado. No lar é a sisudez em pessoa! Extremamente circunspecto, não permite o mínimo deslize no que concerne as prendas do lar. De A à Z, tudo tem que estar na mais perfeita ordem! Na rua, porém, é mais conhecido por Zé Galinha, o maior raparigueiro da urbe, onde não tem uma patusca que não lhe dê asa.
Pois bem, certo dia, Das Graças resolveu ter ciúmes e chamar José Eugênio pras conversas. José, não gostando nem um pouco da ideia, muito menos do tom de voz da esposa, não titubeou e sapecou um certeiro gancho de esquerda na infeliz! Nocauteada, Das Graças só tornou no dia seguinte, quando, varridas pelas más línguas, as mexericas já haviam volitadas desunes e céleres, espalhando o acontecido à mais de mil!
Ao tomar notícia do ocorrido, Rosário meteu o pé na carreira para prestar solidariedade à concunhada Das Graças. Chegando lá, abismou-se ao encontrar a coitada com o olho no anil. No começo, estabeleceu-se o faz-de-conta de uma corriqueira visita, mas, depois, puseram-se a conversar sobre o real motivo:
- Rosário, tu soube?.. Pondo o dedo na avaria.
- Foi queda?
- Não, mulher, foi o José Eugênio...
- O Zé?!
- Foi...
- Das Graças, que coisa...
- Mas, sabe, Rosário, eu pensei, pensei muito, e resolvi não fazer nada com ele, não...
- Como, não?! Isso dá Lei Maria da Penha!
- Rosário, o José Eugênio é um esposo dedicado, pai amoroso com os filhos e ainda, por cima, está ruim, ruim, das pernas...
- Mas, não justifica ele lhe bater!
- Rosário, o homem tá nervoso, desempregado, e se ficar fichado, como é que vai ser?
- É, você quem sabe...
- Depois, eu que comecei. Acusei o José Eugênio, sem necessidade e sem provas...
- Você acusou o Zé de que?
- Menina, dele estar indo ao bar, em vez da Missa...
- Vixe...
- Pois é, e o José Eugênio não é de mentir!
"Olho no anil" é um conto de Totonho Laprovitera.
"Olho no anil" é um conto de Totonho Laprovitera.
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