Valtim.
Terça-feira, sempre é dia de Valtim cortar o cabelo. Cortar não, aparar. Coisa que ele faz, habitualmente, todas as semanas. Cláudio, seu cabeleireiro, já o aguarda com um serviço que não dispensa uma cervejinha estupidamente gelada. Final de tarde o salão vira festa com sua chegada.
- Chegooou!!! O salão inteiro, em coro, anunciou.
- Claudinho, tudo bem com a vida? Saudou Valter.
- Tudo.
- E as garotas?
- Se melhorar estraga. Responderam.
- E cadê a cerveja, gelada?
- No ponto.
- Doutor Valter, já tá é aqui e bem geladinha, véu de noiva! Mostrou sorridente a manicure com a tulipa servida na bandeja.
- Ô coisa linda. Pessoal, e como é que foi o fim de semana?
- Do mesmo jeitim de sempre. E o do senhor?
- Calmo, passei sábado e domingo dedicado à leitura. Devorei uma peça...
- De carne?
- Não, não, minha filha, de direito comercial. Ô, meu Deus...
- Pensei que o senhor tivesse ido a um churrasco...
- Claudinho, chega, vamos logo começar com o serviço. Presta atenção, nada de caminho de rato!
E, enquanto Cláudio ia aparando o cabelo do nobre causídico, a conversa acontecia de maneira amena e bem humorada. Entre um gole e outro, um trago no cigarro e o passar da página da revista de fotos multicoloridas. Ao terminar o serviço, o cabeleireiro, com o espelho a mão, começou a refletir a imagem do resultado para o fiel cliente.
- Tá bom assim, doutor?
- Deixa eu ver... Não, não, eu quero um pouco mais comprido, pode ser?
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