Aconteceu no final da década de 90. Fagner e eu estávamos viajando à Orós, no Ceará, por ocasião de sua tradicional vaquejada. Saímos de Fortaleza na quinta e seguíamos viagem conversando sobre amenidades diversas, enquanto ouvíamos música.
Foi quando comentávamos a respeito da matéria apresentada no dia anterior pelo Jornal Nacional, sobre pirataria no mercado fonográfico, que nos ocorreu a ideia de passarmos pela cidade de São Miguel, no Rio Grande do Norte. Ora, lá iríamos rever grandes amigos e, ainda na sexta, chegaríamos a tempo da vaquejada em Orós. Mas, fiz uma ressalva:
- Concordo, desde que a gente pare agora na primeira bodega e tome uma cachaça.
- Na hora. - concordou Fagner.
E eis que, em meio ao escaldante sol sertanejo, surgiu a bendita bodega. Paramos, esperamos a poeira passar e descemos do carro. Entramos pela acanhada porta do modesto e deserto estabelecimento. A porta era daquelas bem estreitas, da soleira alta e da verga baixa. Lá dentro, a escuridão era realçada pela causticante claridade que fazia fora. Um velho bodegueiro à pia lavava uns copos. Demos bom dia, e ele nos respondeu silenciosamente, balançando a cabeça enquanto nos fitava com o rabo do olho.
- Duas cachaças. - uníssonos pedimos.
- Pois não. - respondeu o bodegueiro.
E não é que enquanto ele nos servia, coincidentemente, para nossa surpresa, avistamos no canto do lugar uma caixa, tipo bodega de fogos, apinhada de CDs piratas. Bati no ombro do Fagner, ele riu e resolveu brincar com o bodegueiro:
- O senhor sabe que vender CD pirata dá cadeia? - rindo.
- Sei sim, meu senhor. Eu inté já pedi pro rapaz que deixou isso aqui pra levar isso embora daqui que eu num gosto de confusão, não! - com um riso amarelo e inocente se explicou o velhinho.
Tem mais gente besta, não...
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