Essa história aconteceu em 1977, quando eu morava em João Pessoa, na Paraíba, dividindo apartamento com Wiron Batista, Júlio Otávio, Toinho Martins e Ricardo Grey.
Eu estava no campus da universidade e com uma preguiça danada de voltar de ônibus pra casa. Daí, por puro interesse, convidei o motorizado Airtinho pra almoçar.
- E aí, quer ir almoçar lá em casa?
- E que vai ser hoje?
- Ah, hoje vai ser peba!
- Adoro um peba!
- Pois então bora?!
- Bora!
E lá fomos no guaribado fusquinha matar a fome. Quando chegamos e estacionamos, pedi ao menino Palhinha para que ele desse um grau no automóvel, lavando-o no capricho. Questão de cortesia a um bom amigo. Pegamos o elevador, subimos ao quinto andar e Dona Fátima, nossa empregada doméstica, trajando um calção do Toinho e uma mini-blusa listrada, abriu a porta.
- Oi, meu patrãozinho lindo, quer dizer que temos convidado simpático para o almoço?
- Pois é, Dona Fátima, o Airtinho é meu amigo e conterrâneo do Ceará.
- Então, já posso servir o almoço?
- Por favor, Dona Fátima.
Sentamos à bem postada mesa, com direito a uma amarelada e brilhosa toalha de plástico, pratos e talheres diferentes, uma cumbuca de farinha e um lambuzada lata de azeite, aguardando a refeição.
Airtinho, cheio de água na boca, comentou:
- Nada como uma comidinha caseira pra gente se lembrar da nossa terrinha...
- Pois é... Dona Fátima, cadê o almoço?!
- Já estou indo, minha criança!
Com a sua elegante passada de princesa etíope, como uma autêntica deusa do ébano, uma galante rainha do ilê aiyê, lá veio Dona Fátima, conduzindo dois pratos: um fundo, com arroz; e outro raso, com dois ovos estrelados.
- Pronto, meus amores!
- Arroz, ovo... E o peba? Cara, você me convidou pra comer um peba!
- Airtinho, e tem almoço mais peba do que esse?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário