domingo, 3 de janeiro de 2016

O susto da Isaura


Há muito tempo, na casa de Zuleica e Dedé, na Estrada da Serrinha, na Parangaba, Maroquinha e Isaura passavam a noite. 

Elegante e esguia, Maroquinha era uma inupta e fina dama, de esmerada educação. Lidava com uma doença autoimune, o que lhe causou a perda total de cabelos, forçando-a ao uso de peruca. Era cunhada de Zuleica. 

Isaura era tia de Zuleica. Morena clara, de olhos verdes bem expressivos, esbanjava a fartura da sua pessoa e um chistoso bom-humor. Quase nômade, bem dizer, passeava pelas casas dos parentes em temporadas sempre por eles estendidas. 

Pois bem, tarde da noite, Isaura foi bater na cozinha para beber água. Caqueando pelas paredes, para espanto seu, levou um baita dum susto ao se deparar com Maroquinha, de camisola branca, comprida e esvoaçante, sem peruca e com um castiçal de vela à mão, alumiando o escuro corredor da casa. 

- Valei-me, Nosso Senhor Jesus Cristo, uma alma penada! Gritou Isaura. 
- Que é isso, Isaura, você quer me matar de susto! Respondeu Maroquinha. 

Aí, nervosa, Isaura quis corrigir a situação e a emenda saiu pior do que o soneto. 

- Ô, minha linda, eu quis dizer que você está parecida com uma foda! 
- Isaura, não seria com uma fada, não?

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