Voltando de viagem, eu afivelava o cinto de segurança quando dei fé uma senhora botar o maior boneco ao descobrir que o lugar de seu assento era bem na porta de emergência do avião. “Eu desço, mas aqui eu não viajo, não! Vai que ela abre lá em riba, eu sou a premera a ser cuspida desse bicho!”, disse a mulher. E o marido falou para a comissária: “Acho melhor a senhora dar um jeito nessa arrumação porque a minha patroa aí é opiniosa e cheia de gosto!”.
Então, com toda habilidade e paciência do mundo, a comissária começou a reorganizar os passageiros em novos lugares, enquanto a bonequeira repetia: “Nã, vou nem pegar fresca pra querer ir nessa janela reia...”
Na nova arrumação, o casal ficou na mesma fila, mas separados pelo corredor. Quando a aeronave pegou fôlego e meteu o pé na carreira pra arribar, a mulher fez careta, fechou os olhos e tomou ar! O marido, com a expressão grelada lhe pediu calma. O avião decolou.
Lá em cima, com o olhar de ave perdida, o casal desatou a conversar:
- Zé?
- Diga, Das Graças...
- Que carreira medonha é essa?
- É pro mode o aparelho avoar...
- Pois quando esse coisa se desgrudou do chão eu engoli seco duma vez e lá se foi o chiclete que tava segurando a minha perereca...
- A dentadura?
- Ô, Zé, a dentadura... As minhas partes é que não é!
- Das Graças, deixa de escandilice...
- Zé, e o teu bride?
- Pois é, esqueci...
- Zé, e o dinheiro, trouxe?
- O pra gastar na viage?
- Sim.
- Também esqueci...
- Home, tu só não esquece das zureia porque elas veve apregada no teu quengo, viu?
- Das Graças, para que você me mata de me abrir...
- E quede a lata da carne torrada?
- Tá comigo, quer que eu pegue?
- Agora não. Tô espiando daqui que a moça vai já passar com o carrim da merenda...
- Então, deixa pra comer ela lá em casa, né?
- É, lá eu boto no feijão...
- Tá bem...
- Zé, cadê o ramim das folha verde pro chá pra barriga?
- De alfavaca? Taqui comigo num saquim de plástico...
- Tomara que nois chegue logo...
- Nessa carreira é logo que nois chega...
- Saudade do Quixadá...
- É, mas premero vamo pernoitar no Maranguape...
- Ô São Paulo agoniada...
- Do povo avexado...
- Nã, se num fosse meu irmão eu lá ia pra lá...
- É mermo, mas agora deixe de conversa fiada que a merenda chegou!
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