Sucedeu-se na Serra da Meruoca, na bodega do “seu” Gerardo, onde eu estava me distraindo um pouco. Entre sacas de arroz, feijão, açúcar e farinha, abancado em um tamborete ao pé do encerado balcão, na mansidão do lugar eu bilava o movimento e rebolava no mato um tiquinho de conversa.
Aí, da clara rua, adentrou ao denso recinto uma contrita senhora de idade, trajando um tradicional vestido de pano azul claro e bolsos largos, com mantilha aos ombros e missal envolto e com terço às mãos. Seguramente, ia à Missa das cinco. Aproximou-se do balcão – autêntico altar da boemia – e baixinho, quase cochichando, rogou: - “Por obséquio, seu Gerardo, uma lapada”.
Com toda a calma do mundo, “seu” Gerardo lhe serviu a cana até a beira da boca do velho copo americano. Ela ofereceu ao santo, virou a talagada de uma vez só, passou a mão nos beiços, pagou em moedas e, serenamente, carregada de fé, seguiu às suas religiosas obrigações.
Uma talagada...
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