Sucedida lá pelos anos 1950, esta história eu ouvi do Alex Figueiredo, amigo de privilegiada memória e notável contador de causos.
Após se eleger deputado estadual, um determinado doutor costumava ir todos os finais de semana com sua esposa à sua cidade natal, no interior cearense.
Certa vez, quando lá chegaram, a esposa assim que viu um circo armado em largo terreno baldio, falou:
- Ah, que eu quero ir...
- Mas querida, dizem que o palhaço é muito imoral. – comentou o doutor.
- Mas eu gosto tanto de circo...
- Mas...
- Mas o que, meu doutor?! Eu quero ir e vou e pronto!
- Está bem, está bem... Cabo Otino, vá lá e diga para o palhaço que o espetáculo de hoje vai ser de respeito! Nada de saliências!
Tido e havido como cavalo batizado, Otino era o cabo do destacamento local que cumpria a missão de proteger a autoridade maior do lugar. Como não tinha o costume de pegar leve, foi logo direto ao circo e pregou a regra de comportamento para o palhaço.
Porém, naquela noite, tudo ia muito bem, até o ousado palhaço puxar o cós da folgada calça e gasguitar: - “É a meuda!”
Aí, quando doutor se levantou e disse “minha filha, vamos embora, vamos embora”, cabo Otino invadiu o picadeiro e partiu pra cima do palhaço: - “Que esculhambação é essa, seu fela da gaita?! Respeite as autoridades, seu baitinga!”
Com o dedo em riste ao nariz do acuado palhaço, prosseguiu: - “Olha aqui, seu rolete de estrume, eu não sei porque eu não arranco essa sua língua podre pelo fiofó!
E, pra terminar, batendo com os dois dedos nas insígnias ombreais da farda militar, finalizou a regulagem se impondo como braço-de-ferro: - “E tem mais, exijo respeito porque essas fitinhas daqui não foram pregadas com sebo de pica, não!”
Resguardados, o doutor e esposa permaneceram no camarote principal, o espetáculo prosseguiu e o palhaço, comportadíssimo, não disse mais nem um inocente nome feio sequer.
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