“Não és sequer a razão de meu viver, pois que tu és já toda a minha vida.” (Florbela Espanca)
Há muito tempo, na antiga Praia do Peixe – hoje de Iracema – Bode Ioiô era useiro e vezeiro em contar aos berros que o velho sonhador Mestre Totinha teria passado a vida inteira indo ao alto mar, lá bem depois da risca, pescar uma rara e única espécie marinha, em que acreditava haver caído do estrelado céu da longa e brilhante constelação pisciana.
Pois é, todo santo dia Mestre Totinha madrugava e, embarcado em miúda jangada de piuba, debaixo do ciano do céu e do amarelo do sol, enfrentava mistérios das profundas verdes águas fortalezenses. Era quando se deixava levar ao sopro dos ventos – encarando perigos, desafiando nortes e navegando quimeras – que conversava com o tempo. Do sal da praia, aos sóis, dias e noites e luas, ele teimava em navegar contra a insossa realidade absoluta.
Bem, pra terminar logo esta ligeira história, talvez o velho sonhador Mestre Totinha nunca tenha conseguido pescar a tal criatura, mas como bem intuía sobre seus propósitos de vida, sem querer, foi assim que ele achou uma boa razão para durar exatos 105 anos de idade!
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