Olha, uma das melhores galinhas à cabidela era, sem dúvida alguma, a que eu costumeiramente comia na bodega do João Raul, na Serra da Meruoca.
Pois bem. Certa vez, lá eu estava com o amigo Luiz Pontes traçando uma daquelas penosas, quando espiamos bastando ao balcão da casa o célebre filósofo daquele pedaço de chão: Toim da Meruoca!
Trajando a sua habitual e alva indumentária de pensador sertanejo, acudia-se do sol com o seu boné de sotaque inglês – presente do finado doutor Paulo Sanford – e óculos de carregadas lentes escuras em armação graúda – deixa do saudoso Zé Saboya. Pitando um palha, pediu uma lapada de cachaça, ofereceu a do santo e de uma golada só entornou o resto. De tira-gosto, só mesmo a passada de mão nos beiços.
Aí, Luiz pediu para convidá-lo à mesa. Convite feito e aceito, cumprimentamo-nos e com ele já abancado, tacamo-nos a conversar:
- E aí, Toim, quais são as novas. – perguntou Luiz.
- Doutores, o mundo está ficando cada dia mais besta! E só tem um jeito para a salvação da humanidade. – respostou.
- E qual é? – tornou a indagar.
- É caçarmos o real entendimento do tempo, pra começo de conversa.
- Como seria isso? – indaguei.
- Espie que o tempo não corre em uma única linha de anavantu e anarriê. Ele se espalha feito fogos de São João no céu do universo. É o mistério da eternidade...
Conversa vai, conversa vem, perguntamos sobre as riquezas de um povo.
- Doutores, primeiro de tudo, eu só boto fé em quem dá valor à sua cultura. Pois só assim se forma uma civilização. Agora, o fogo, o sal, os metais preciosos, os tesouros e as mercadorias, já valeram como riquezas de uma nação.
- E hoje?
- Hoje, é a informação.
- E no futuro?
- No futuro será a poder do tempo, a única moeda que não tem volta, não se recupera. Será o grande patrimônio de um torrão...
- E vai parar por aí?
- Não, pois o tempo não para! Depois, como “Senhor da Razão” que é, o tempo dará lugar ao afeto, esse sim, a maior riqueza da humanidade! O povo afetuoso terá uma abastança tão grande, mas tão grande, chega se não comprar a felicidade, vai trazer ela bem pra perto!
O silêncio reinou, o horário parou e o filósofo Toim da Meruoca se despediu dizendo: - “Dá licença, doutores, que agora eu vou aproveitar essa jipada, pois ainda tenho um mote a tratar com um bando de meditação matuta na bodega do Antoim Baixim, bem ali no São Braz”.
Pois é, como diz o filósofo, "pecunia opus ad potentes, divites pauper superbiae". Quer dizer, "os medíocres necessitam de dinheiro para serem ricos e arrogância para serem poderosos."
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