A família havia decidido internar Cosminho no hospital psiquiátrico. É que ele andava saindo de giro. Queimando graxa. Dando defeito. Improvisava uma banca na praça principal da pequena cidade e passava o dia todinho distribuindo ordens escrevinhadas em papel de caderneta, para os passantes que acabavam fazendo fila pra granjear sinecuras do excêntrico Cosminho.
Então, Damiãozinho, seu irmão gêmeo, foi o escolhido pela família para a penosa missão.
Cosminho não pôs dificuldade alguma para aceitar a sua internação. Disse concordar com o diagnóstico médico e a indicação de tratamento a ser submetido. Portanto, para seu próprio bem, iria de livre e espontânea vontade para o nosocômio. E assim, deu-se o sucedido.
Chegado o dia e a hora, no caminho, Cosminho puxou conversa com o mano.
- Damiãozinho, para um irmão, deve ser muito difícil fazer o que você tá fazendo comigo...
- É verdade, meu irmão...- Internar um irmão é uma incumbência sofrida...
- Quero nem pensar nisso...
- É constrangedor pro que se interna e pro internado!
- É mesmo... (Marejando)
- Bem, já que é assim, posso lhe pedir uma coisa?
- Pode, sim... (Chorando)
- Já estamos chegando, então, deixa eu entrar na frente e me apresentar na recepção sozinho?
- Tudo bem, Cosminho. Mas vou ficar daqui, de olho em você, pra depois chegar... (Soluçando)
- Pronto, tá valendo. Fique aqui.
- Fico.
Feito o combinado, Cosminho se dirigiu à recepção do hospital e falou com a balzaquiana recepcionista:
- Bom dia, senhorita.
- Bom dia. Em que posso lhe ajudar?
- Bem, eu estou aqui para internar meu amado irmãozinho, que tem graves distúrbios mentais e teima em dizer ser normal e que o doido sou eu.
- Eu entendo. E onde ele está?
- É aquele ali que está nos olhando, encostado na parede.
- Pois então traga-o aqui.
- O problema é esse, moça. Ele é violento e não vai se deixar internar, pelo o que me cochichou agora há pouco.
- Não se preocupe, senhor, temos enfermeiros fortes e capacitados para efetuar esse tipo de ação.
- Por favor, não quero que o machuquem...
- Não se preocupe, senhor, nossos profissionais são competentes.
- Sei, sei... Mas não custa nada dar pra meu irmãozinho um sossega-leão e vestir uma camisa-de-força nele, né?
- Pode deixar, fique despreocupado, que atenderemos as suas recomendações!
E assim, muito a contragosto, desesperadamente revoltado, Damiãozinho foi internado à força e se esgoelando: - “O doido é ele! O doido é ele! O doido é ele!”
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