domingo, 6 de setembro de 2015

O terno do Waldick


Ícone da música classificada como brega, Waldick Soriano foi fazer um show na cidade do Icó, no Ceará, nos anos 1970. Para se resguardar do grande assédio que habitualmente passava, decidiu hospedar-se na cidade vizinha.

Em Orós, acolheu-se no Hotel Municipal, que era um primor de equipamento. Bem projetado, na época, o hotel não deixava a desejar em nada à nenhum meio de hospedagem do Ceará.

Festejado em sua chegada, Waldick foi conduzido ao conforto de seus aposentos e, ao mesmo tempo, apresentaram-lhe o roteiro turístico da cidade. Tempo ele tinha de sobra, pois só se apresentaria na noite seguinte. Então, Waldick teria a manhã inteira e parte da tarde para conhecer os belos recantos do lugar e desfrutar do carinho da sua gente.

No outro dia, antes de começar a programação, pediu à camareira para passar o seu alinhado paletó. Vaidoso, prometendo-lhe gorjeta, recomendou cuidados, pois era um negro terno de pano de bom caimento, bem cortado, de estilo e fina etiqueta. Tudo organizado, cedo seguiu para o célebre e colossal Açude Orós. Controlando-se quanto aos exageros, comediu-se nos drinques e à tarde retornou ao hotel para almoçar um bem preparado, suculento e fresco tucunaré.

Quando beliscava a entrada de isca de tilápia na cerveja e sorvia um conhaque como aperitivo, espiou pela janela do restaurante que dava para a área de serviço do prédio e, bruscamente surpreso, avistou o seu precioso terno, todo engelhado e pendurado no arame de secar roupa!

Para seu desespero e por excesso de zelo da camareira, o terno foi encaminhado à lavanderia, sem levar em conta a recomendação na etiqueta de que a peça só poderia ser lavada à seco! Fã de carteirinha do cantor, para agradar o seu ídolo, a lavadeira achou de lavar o paletó no capricho, com bastante esfregado de sabão e deu no que deu. 

Daí, formou-se a confusão! O cantor revoltou-se e queria porque queria que dessem um jeito no seu paletó. Não foi possível.

Depois de muitas tentativas, conseguiram engomar o terno de tal maneira, que ele começou a ficar parecido com um jaleco de madeira envernizada. Ofereceram outros ternos para ele se apresentar no Icó: um do Pedro Augusto, outro do Fransquim Picarete, e até do Eliseu Filho, mas, Waldick recusou. Apesar do gerente do hotel pedir mil desculpas, Waldick também não aliviou e nem perdoou seu ninguém. 

Dizem que, por pura teimosia, Eurípedes Waldick Soriano se apresentou com o finado paletó no show do Icó e que ninguém nem prestou atenção na elegância dele ou não. Afinal de contas, todos queriam era somente curtir as suas românticas canções.

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