No Palácio da Luz, antiga sede do Governo do Estado Ceará e construído no final do século XVIII, todas as vezes que participo das reuniões da Academia Cearense de Artes Plásticas, da qual faço parte, eu não me canso de olhar para as admiráveis pinturas de Raimundo Cela.
Raimundo Cela – Abolição da Escravatura no Ceará – 1938 – OST – 2,25 x 3,92 m. Do acervo da Academia Cearense de Letras.
Cearense, de Sobral, Raimundo Brandão Cela (1890-1954) foi pintor, desenhista, gravador, professor e engenheiro. Filho de um mecânico espanhol e de uma professora, aos quatro anos de idade mudou-se com a família para a cidade praiana de Camocim, onde o pai assumiria as oficinas da estrada de ferro e a mãe lecionaria na escola de primeiras letras. Raimundo Cela e seus irmãos foram alfabetizados pela própria mãe.
No ano de 1906 mudou-se para Fortaleza, onde estudou no bem-conceituado Liceu Cearense, graduando-se bacharel em Ciências e Letras.
Em 1910 foi para o Rio de Janeiro e, vocacionado para as artes, matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes, como aluno livre, onde estudou com os mestres Zeferino da Costa e Eliseu Visconti e Batista da Costa. Concomitantemente, matriculou-se na Escola Politécnica, atendendo ao desejo de seu pai que se formasse engenheiro. Três anos depois, graduou-se como engenheiro-geógrafo.
Em 1916, pela primeira vez, participou do Salão da Escola Nacional de Belas Artes, conquistando a Pequena Medalha de Prata. No ano seguinte, recebeu o desejado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, onde, na Europa, estudou gravura com Frank Brangwyn, pintor, gravador e litógrafo inglês. Em 1922, em Paris, participou do Salão dos Artistas Franceses.
Em 1943 foi premiado no Salão Paulista. Em 1947, no Salão Fluminense, no Rio de Janeiro, e no Salão Nacional de Belas Artes. Individualmente, expôs em 1941 e 1944, em Fortaleza, e em 1945 e 1947, no Rio de Janeiro.
Quando voltou ao Brasil, por problemas de saúde, Cela foi residir em Camocim, onde trabalhou como engenheiro. Voltou a dedicar-se à carreira de artista plástico após 1940, quando se mudou para Niterói, no Rio de Janeiro. A partir daí lecionou gravura em metal na Escola Nacional de Belas Artes, onde realizou a sua primeira mostra individual, em 1945.
Embora tenha passado bastante tempo no anonimato, com motivos regionais cearenses – pescadores, jangadeiros, beiras de praias com coqueiros, tipos nordestinos –, para a crítica e estudiosos da arte, no Brasil e no exterior, Raimundo Cela é reconhecido como um dos mais importantes pintores do século XX, apesar de muitos o considerarem mais gravador.
(Foto: Totonho Laprovitera)
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