E não é que eu encontrei o Régis, tranquilamente sozinho, tomando um chope na praça de alimentação de um movimentado shopping da cidade. Causou-me espanto, pois morto não anda por aí, desse jeito. Principalmente, bebendo, né? Aí, não tive dúvida – nem medo – e fui até à mesa do Canalha (era esse o apelido dele), onde muito bem sentado festejou o nosso encontro.
Conversamos à vontade e a estranheza sobre aquela situação me passou batida. Diante da alegria do seu regresso ao mundo dos vivos, fiquei feliz com a certeza de que “o impossível é só questão de opinião”. E, assim, decidi contar para os amigos que o velho Régis havia voltado.
De pronto, então, à caminho de casa, liguei para o Moca para contar. Mas, na hora de dizer a boa nova, a ligação sempre falhava. Tentei, tentei, até desistir. E, quando mal entrei em meu quarto, alguém bateu à porta. Abri, era o Régis.
- Foi você, não foi? - perguntei.
- Eu o quê? - respondeu, perguntando rindo.
- Quem atrapalhou a minha ligação com o Moca.
- Foi, só pra sacanear...
- Você está voltando?
- Estou e quero que seja de vez.
- Por que, lá não é bom?
- É bom, mas, muito calmo. Uma paz exageraaada, tudo muito parado...
- E do que você precisa para ficar por aqui?
- Dos amigos que me aguentem, que me façam companhia...
- Vivos, né?
- Vivos, sim. Até porque a morte não existe...
- É, pelo visto, não existe...
- Rapaz, a negada ainda não sacou que só os outros morrem!
Aí, enquanto comecei a cogitar sobre tudo de bom que o Régis traria com a sua volta, o despertador bateu e eu acordei. De tão nítido, o sonho me fez pensar sobre o que é real e fantasia, o que é começo e fim, o que é alegria e tristeza, o que é felicidade e infelicidade, o que é paz e conflito, amor e ódio... O que é vida e morte...
Ei, Moca, o Régis voltou!
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