quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Promessa pra passar de ano


Quando eu cursava o quinto ano primário, aos onze anos de idade, eu tive uma grande dificuldade de passar de ano. Daí, fiz uma promessa que, se lograsse êxito no meu rogo, eu assistiria a Missa durante sete dias seguidos!

Passei de ano e, para pagar a minha promessa, lá eu ia diariamente à Missa das cinco da tarde na Paroquia da Paz. Lembro que eu tomava banho, me arrumava todo e seguia à pé, pisando com as minhas confortáveis alpercatas franciscanas. Como chegava às três, eu fazia hora na quadra da paróquia, onde jogava bola para depois assistir a Santa Missa, suado que só. 

Gostei tanto de cumprir a promessa, chega nos três últimos dias da promessa terminei foi ajudando a Missa celebrada pelo então bom Padre Amarílio! 

Se tivesse sido coroinha, talvez me ordenasse padre e, quem sabe, se o Papa Francisco de hoje não seria brasileiro!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Apavorada paquera


Quando adolescente, eu paquerava com uma menina muito pura e assustada. Aí, na festa de um carnaval do Náutico, o finado Lolô, que era amigo dela e não tinha nada pra inventar no momento, criou a seguinte onda. Pra mim, que ela havia lhe segredado o desejo de ficar comigo. Pra ela, que eu iria agarrá-la a todo custo, nem que fosse à força!

Resultado: Toda vez que eu me aproximava dela, ela, assombrada, metia o pé na carreira e saía correndo, morta de medo de mim!

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Discos voadores em Orós


No início dos anos 1980, eu integrei a turma de estudantes do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC – Universidade Federal do Ceará, organizada pelo professor Liberal de Castro, para realizar levantamentos arquitetônicos de uns casarões na cidade do Icó, em convênio com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Agora, embora o trabalho fosse no Icó, nos hospedamos no Hotel do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, na vizinha cidade de Orós.

Na turma, estávamos: Eu, Artur, Bossa, Clélia, Dina, Eliana, Krika, Mirtes, Paulo Eduardo, Rosalinda, Rosy, Solange, Thelma... 

Pois bem, depois de um dia puxado de trabalho, na primeira noitada no hotel, armamos umas redes nos alpendres e pusemos-nos a conversar. Papo vai, papo vem, avistamos umas brancas luzes no céu daquela descortinada noite. Tudo bem, não nos causaria curiosidade se elas não descrevessem incríveis manobras! Ligeiras que só, elas corriam para os lados, pra frente e pra trás, pra cima e pra baixo. Tudo isso, numa harmônica sincronia coreográfica. 

Suspeitamos serem OVNIs, mas, existem discos voadores? Parecia até que nossos olhos engabelavam a gente, inventando aquelas inacreditáveis imagens! Ah, tínhamos acabado de jantar e estávamos completamente sóbrios, é bom frisar.

O interessante dessa história é que, por vários anos, eu comentava com a turma e ninguém se lembrava de tal episódio. Até que, em um dia, tornei a contar e, para surpresa minha, todos se lembraram.

Pra não dizerem que é mentira minha, perguntem pra quem lá esteve. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sertaneja credibilidade


No sertão brabo do Ceará, após explanar por várias horas sobre técnicas da agropecuária, profissionalização rural e a consequente melhoria da qualidade de vida dos agricultores, visando o progresso do perfil da agricultura familiar no Estado do Ceará, um técnico da Ematerce encerrou a palestra abrindo o diálogo com os sitiantes, acerca do assunto. 

Da plateia, ninguém ousou entabular uma conversa ou até mesmo perguntar a propósito de alguma dúvida. Daí, o doutor agrônomo insistiu, insistiu, e pediu para alguém comentar o quer que fosse. Após a demasiada persistência, um agricultor de adiantada idade, quebrando o silêncio, glosou: - "Doutor, sei não, mas eu não consigo acreditar num home que nunca pegou uma jumenta..."

domingo, 27 de dezembro de 2015

Nadando contra a correnteza


Na Fazenda Marrecas, em Sobral, a brincadeira da meninada em férias era a de pegar parelha a nado contra a correnteza do Rio Acaraú. Depois do “um, dois, três, meia e já!”, a negrada se tacava em tresloucadas braçadas, onde a força valia mais do que o jeito. 

Da petizada, a disputa maior era entre os infantes Chiquinho e Boy. Boy possuía a vantagem de ter a compleição física mais encorpada, enquanto Chiquinho era o cão comendo mariola na arte de armar vantagens. Daí, valeu-se da astúcia de Toinho, seu fiel par de traquinagens, para vencer o aquático desafio, com direito ao exclusivo prêmio de cavalgar a jumenta Cara Branca no passeio do dia seguinte. 

Chegada a hora agá, posicionados lado a lado, o adolescente Jacaré, juiz da prova, deu o sinal da largada aos olhares do fiscal Aloísio, seu belo irmão.

Feito Johnny Weissmuller interpretando Tarzan, o nadador Boy deu um grito e uma estilosa tainha, arrebatada de braçadas a mais de mil, como propulsado por possante motor fosse! Mais tranquilo, Chiquinho tibumgou serenamente nas revoltas águas... 

Quando veio à tona, ao final da competição, Boy gritou:

- Venci!

Porém, para surpresa sua, de braços cruzados, o campeão Chico já o esperava para dar-lhe os parabéns pelo segundo lugar! Revoltado, Boy pediu revanche!

Concedida a revanche, deu-se o mesmo resultado do prélio anterior, com o esbaforido Boy desabando de cara com o sereno vencedor Chiquinho!

Somente após a gorada terceira tentativa, foi que Boy rendeu-se ao campeão Chiquinho. No entanto, ao saber que, ao mergulhar, o campeão era auxiliado por um puxão de braço do Toinho, Boy revoltou-se, ficou de mal do Chiquinho e disse que iria embora pra casa, em Fortaleza! 

Ora, 220 quilômetros separam Sobral de Fortaleza e, naquela temporada, era difícil ter um carro para sair da fazenda. Mudo e rebelado, Boy escanteou-se em um canto do comprido alpendre, sem dar confiança a seu ninguém. Na companhia das esfomeadas muriçocas, nem jantar, jantou. Mais tarde, com o bucho roncando, decidiu mudar de ideia quando Jacaré lhe aconselhou: 

- Amigo, não tem vantagem nenhuma se intrigar com o dono da casa... 

Pazes feitas, fomos todos no outro dia passear de Equus asinus pelas largas terras da Fazenda Marrecas.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Mão suada


Raimundinho era um dócil contínuo da repartição. Imberbe, de baixa estatura e ombros estreitos, tinha a voz arrastada e as mãos frias e suadas. Educado que só, fazia questão de cumprimentar a todos, com puxados e repetitivos chavões.

O sério Doutor Júnior, mais trancado do que o de touro subindo ladeira, se esquivava com indiferença às saudações de Raimundinho. E não escondia pra seu ninguém essa sua antipatia, principalmente pelo transpirado aperto de mão do contínuo. Daí, quando eu soube disso, tive a ideia de aprontar um pouco com o doutor. Cheguei pro Raimundinho e disse:

- Raimundinho, todos aqui lhes tem como o rapaz mais educado da repartição!
- Ô, muitíssimo obrigado...
- Atencioso e gentil!
- Quanta gentileza...
- Mas, cá pra nós, ninguém tá entendendo o que está acontecendo entre você e o Doutor Júnior...
- O que?! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo que eu não estou sabendo?!
- Estão dizendo que você anda meio esquisito com ele, que se negou a apertar a mão dele... Não sei que o que... Mas, por favor, não faça fofoca com o que estou lhe dizendo, em consideração à nossa amizade. Peço-lhe reserva!
- Claro, pode deixar! Mas, por obséquio, com licença que eu vou resolver esse assunto agorinha mesmo!

E lá se foi Raimundinho reparar o “mal entendido”. Quando ele chegou na sala, Doutor Júnior se encontrava só, concentradíssimo em um processo que despachava. Aí, com muito jeito, sem que fossemos percebidos, eu e meia dúzia de colegas brechamos o contínuo puxar a conversa: 

- Dá licença, Doutor Júnior?
- Hum...
- Doutor Júnior, antes de tudo, aperte a minha mão... 
- Raimundo, tudo bem... (Se esquivando, dando tapinhas nas costas dele)
- Doutor Júnior, aperte a minha mão... 
- Carece não, Raimundo, carece não... 
- Doutor Júnior, deixe de ser orgulhoso e aperte a minha mão... 

Aí, depois de muita insistência, quando o Júnior já estava rendendo-se ao apelo de apertar a fria mão suada de Raimundinho, um de nós não se aguentou e vazou um riso. O Doutor notou, levantou-se avexado e nos descobriu na moita. 

- Muito bem, eu já estava desconfiando... Só podia ser sacanagem de vocês!
- Doutor, não estamos lhe entendendo... 
- E nem carece! Vocês não tem o que fazer, não?! 
- Temos, sim... 

Aí, Raimundinho não perdeu a oportunidade:

- Gostei, Doutor Júnior! É isso aí, tome cinco!
- Querem saber duma coisa? Vão dar os cuzes vocês e o Raimundinho!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Brincar de tropa


Segundo o pensador russo Lev Vygotsky, pioneiro no conceito do desenvolvimento intelectual das crianças, “Ao brincar, a criança assume papéis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não está apta ou não sente como agradáveis na realidade”. 

Pois bem, no tempo em que eu cursava o primário escolar, no Colégio Christus, uma das nossas brincadeiras favoritas na hora do recreio era a de tropa.

Ao contrário do que possa parecer, brincar de tropa não correspondia à ação de violência física, pois as brigas eram de pura encenação. 

Cada grupo que se formava para a brincadeira elegia seu líder, geralmente o mais forte, que era bastante respeitado. Aí, todos nós corríamos como se cavalgássemos. Imaginávamos cenas e paisagens cinematográficas, dignas de um bom filme de ação. Tudo isso embalado pelos efeitos e trilha sonoras que cometíamos e compunham a dinâmica da diversão. 

Vivíamos uma época em que brincar era uma condição fundamental para sermos apenas crianças com a visão do nosso simples mundo.

A mordida do Tupã


Sobre a Turma do Bambu, o Ricardo Lincoln Barreira, meu amigo Barreirinha, tem é história pra contar.

Uma vez, voltando da farra ao amanhecer do dia, Juarez, seu irmão mais velho, e demais compartes decidiram pular o muro da casa do Zé Aragão, que também compunha a pândega. Surpreendidos, foram recepcionados pelo cachorro Tupã, uma indomável fera, que não perdeu a oportunidade de, impiedosamente, abocanhar o Fernando Candango. 

Prontamente socorrido, a turma escapuliu e foi bater na casa do Juarez. Daí, Barreirinha conta. 

“Fernando, muito preocupado, perguntou ao papai: - Dr. Juarez, seria bom nos vacinarmos? Papai respondeu, na lata: - Do jeito que vocês estão, seria melhor vacinar o cachorro!”

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Assuntando com o Dr. Juarez


Bastante respeitado, tudo quanto era novidade nas proximidades da Fazenda São Paulo, em Ibaretama, que já foi Quixadá, iam contar ao Dr. Juarez Barreira.

Certo dia, assuntaram com ele: 

- Dr. Juarez, tem ali um cidadão que pissui 17 filhos!
- E como é o jeito dele? Perguntando, respondeu.
- É um sujeito baixo, grosso, mas, pra cobrir é um lençol!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Noitada de jogatina


Aconteceu em mil novecentos e antigamente, na saída do cassino Guarany, aqui em Fortaleza.

Dois cidadãos, um nu e outro de cueca, após grande noitada de jogatina. O nu olhou para o de cueca e comentou: - "Taí, que eu admiro o cara que sabe parar!"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Gota

Dr. Zacarias Silva.

Uma dieta para diminuir o ácido úrico é importante para pessoas predispostas a desenvolver gota. Segundo o Dr. Zacarias Silva, “ela deve ser pobre em carnes, sobretudo as jovens como cabrito, vitela ou leitão, por exemplo, assim como em peixes e frutos do mar”.

Sitônio da Parangaba.

Sobre o assunto, de tão impressionado com a sua taxa de ácido úrico, Sitônio da Parangaba revela: “Basta eu passar em frente ao restaurante Carneiro do Ordones, ali na Azevedo Bolão, no Parque Araxá, preu ficar com as juntas tudo doendo!”

(Fotos: Zecaneto)

domingo, 20 de dezembro de 2015

Olhar de serpente


Olhar de serpente 
(Totonho Laprovitera)

Água corrente vem da nascente,
roda moinho, vento de agosto
Brilho do olho, olhar de serpente
sorte de quem provar do teu gosto

Quando o desejo é a semente
sonho distante, além do norte
Corta o céu estrela cadente,
risca com luz em desenho forte

Quantas imagens me são ardentes,
quantos sóis clareiam minh’alma,
quantas palavras me vêm à mente

Quem do amor na vida provou
tem a certeza de um dia dizer:
Da vida eu vim e é pra ela que vou!

sábado, 19 de dezembro de 2015

Documentos de família

De meu pai.


Dois cartões de apresentação: um, pessoal; outro, profissional.


Um cheque não datado, no valor de duzentos cruzeiros.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

CAUSOS, de Totonho Laprovitera

Agora pegou de vez!


Na I Festa Literária do Humor Cearense haverá noite de autógrafos do livro CAUSOS, de Totonho Laprovitera.


O acontecimento se dará hoje, nesta sexta-feira, dia 18/12/2015, às 19:30h, no Museu do Humor Cearense/Teatro Chico Anysio - Av. da Universidade, 2175, em Fortaleza-CE.

(Fotos: João Filho Tavares)

Sarita Montiel

Sarita Montiel no filme La Violetera.

Em 2002, aconteceu o XII Cine Ceará no Cine São Luiz, em Fortaleza.

Sarita Montiel recebe flores do jornalista Tom Barros.

Na abertura do evento, de pé, a plateia aplaudiu a atriz espanhola Sara Montiel, homenageada pelo Festival por ser uma das mais famosas atrizes do Ciclo de Ouro do Cinema Mexicano, na década de 1950.

(Fotos: Google)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


De coração, agradeço aos muitos amigos que prestigiaram o lançamento do livro CAUSOS, de minha autoria, ontem, no Ideal Clube.

Como comprar: Loja Desafinado - Av. Dom Luiz, 655, Aldeota, Fortaleza-CE (R$ 50,00) - ou contato@4rtequattro.com.br (R$ 50,00 + despesas postais).

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


Sinopse: Idealizado a partir de uma coletânea de textos escritos por Totonho Laprovitera durante uma década, CAUSOS é um livro de narrativa leve e bem humorada de episódios ocorridos em diversos lugares, contados sem a preocupação de apartar a verdade da mentira. 

Prefácio: Aíla Sampaio
Apresentação: Xico Sá
Comentário: Wilson Ibiapina
Capa e ilustrações: Juliana Araripe 
Projeto gráfico: Francisco Teixeira
Diagramação: Elias Saboia
Revisão: Cristina Carvalho
Impressão: Tiprogresso
Realização: Artequattro
Apoio Cultural: Satrix S/A – Energias Renováveis e Autoescola Bosco 

Formato A5
186 páginas

Como comprar: 
Loja Desafinado - Av. Dom Luiz, 655, Aldeota, Fortaleza-CE (R$ 50,00)
ou
contato@4rtequattro.com.br (R$ 50,00 + despesas postais)

Parque de diversões


Lembro de um parque de diversões (Shangai, do Eliezer Araujo, segundo Américo Picanço) que se instalava na Cidade da Criança (Parque da Liberdade) e fazia o maior sucesso, alvoroçando a Fortaleza dos anos 1960.

Nele, nunca tive coragem de embarcar no Sputnik, um brinquedo que possuía duas naves ligadas por meio de braços a uma estrutura metálica central, com sistema de movimentos alternados de subir e descer, até girar rapidamente em 360 graus. 

Já, no Trem Fantasma eu ia, mas me pelava de medo, pois, mesmo sabendo que tudo era invenção, eu gelava quando aparecia de supetão uma alma que, em movimento mecânico, passava um fino lenço no rosto do passageiro. 

No stand de tiros, certa vez, eu estava demorando na mira (devidamente empenada) do alvo e o instrutor fez a “gentileza” de puxar meu dedo no gatilho para atirar logo. Fui reclamar, mas, não adiantou. Malandramente, ele desconversou chamando o próximo.

Tinha, ainda, roda gigante – muitos a chamavam de hola –, carrossel – com tristes cavalinhos de madeira –, carrinhos elétricos – batendo uns nos outros e faiscando quando haste riscava a eletrificada tela no teto da gaiola... Ah, sim, ainda tinha o sistema de radiadora, tocando música e enviando recados “de um alguém para outro alguém”. Era tanta coisa...

E as filas eram imensas e não faltava carrinhos de picolé, pipoca, algodão doce, baleiros e coisa e tal...

Bem, depois eu conto mais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


Hoje, quarta-feira, 16/12/2015, a partir das 19:30h, o livro CAUSOS, de Totonho Laprovitera, será lançado no Ideal Clube - Av. Monsenhor Tabosa, 1381 - Meireles, Fortaleza-CE.

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


A decisão de publicar um livro contando minhas histórias ocorreu pela sugestão e incentivo de muitos e generosos amigos. Ora, já era sem tempo, pois o livro é uma coletânea de textos escritos, pelo menos, durante uma década.

No Beco da Poeira


- Quem duvida perde a vida...
- Come casca de ferida!
- Diga aí, coisa ruim!
- Fala, rola-bosta!

É assim que Seu Dé e Seu Lineu, amigos de longas datas, se cumprimentam quando se encontram na hora do almoço, em um pequeno e asseado restaurante popular do Beco da Poeira.

Hoje em dia, Seu Dé é um bem-sucedido comerciante informal que atua no segmento de acessórios, camisaria, jeans, lingerie, moda infantil, moda praia, surfwear etc. No Beco, entre o emaranhando de apertados corredores com mais de dois mil boxes, enfileirados de um lado e outro com roupas baratas, seu comércio parece uma barraca marroquina, onde, praticamente, ninguém percebe modelos, apenas o colorido bem vivo.

Seu Lineu é ambulante e vende do caldo de mocotó ou de cabeça de peixe, ao suco de graviola ou de murici. Diz que seu ofício é apenas para inteirar a sua renda familiar, pois a esposa Adelaide é consultora da chamada “modinha”, ou seja, uma moda feminina mais popular, na maioria, de peças de malha, bastante influenciada pelos figurinos das novelas da televisão.

Pois bem, os dois foram convidados para a festa de confraternização de final de ano no Beco da Poeira. Seu Dé diz que se for não vai beber, pois “quando a cachaça desce, a palavra sobe”. Já, Seu Lineu fala que “quando a esmola é muita, o cego desconfia”.

- Cuidado, rapaz, quando a formiga quer se perder, cria asa...
- E quando Deus dá a farinha, o diabo vem e rasga o saco...
- É, mas quando Deus tira os dentes, enlarguece a goela do freguês...
- E endurece a gengiva da gente...
- Pois é, eu já fiz foi quebrar meu violão pra não ouvir zoada...
- Quem avisa, amigo é...
- Quem brinca com fogo, acorda mijado...
- E quem cochicha, o rabo espicha!
- E quem fala muito, termina mentindo e dá bom dia a jumento...
- Macho, e aí, tu vai?
- Pra confraternização?
- Sim...
- Depende.
- Do que?
- Quanto vai ser?
- No total, os lojistas vão dar mil e os ambulantes quinhento!
- Bem, quinhetros meus co mil teu...
- Aí dentro, Seu Dé!
- Eu como!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


"A vida desse ítalo-cearense, arquiteto, urbanista e artista plástico já é um livro." 

Wilson Ibiapina, jornalista.

Fiscal de noivas


A mania de Edvarzinho era anotar em uma folha de papel ofício, bem pregada na porta do seu guarda-roupa, as datas dos casamentos de quem conhecia, mesmo de vista, para depois conferir o número de meses de gestação da noiva.

E era assim, por exemplo, que ele comentava com a sua querida tia Laura:

- Titia...
- Que foi?
- Titia, a nossa casta vizinha, imaculada nubente que casou de branco, com véu e grinalda de metros, acabou de parir uma linda criança!
- Foi mesmo, Edvarzinho?
- Foi e o menino pesou quatro quilos e duzentos gramas, e mediu exatos cinquenta e cinco centímetros!
- Um meninão, não é?
- É, e é porque nasceu, oficialmente, com apenas seis meses!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CAUSOS, de Totonho Laprovitera


"Um causo bem narrado é pura arte. Como leitor voraz deste livraço, sou testemunha e dou fé. Artista plástico e arquiteto, Totonho Laprovitera é também, e não deve cerimônias a ninguém, um escritor de primeira, de um ramo dos mais necessários: os contadores de histórias."

Xico Sá, escritor e jornalista.