quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A casa do vizinho


Nos anos 90, projetei a residência de um casal amigo, quando tudo, com muito gosto, foi tratado cuidadosamente em cada mínimo detalhe da edificação, em um exercício arquitetônico sem par. 

Concluída a obra, como tudo que é bem planejado, a casa ficou quão projetada foi. Uma beleza de trabalho. 

Mas, meses depois, por acaso, eu me encontrei com o cliente e soube do grande rebu ocorrido: quando ele foi obter o “habite-se” da casa na Prefeitura, constatou-se que a mesma havia sido construída no lote errado! 

- Pois é amigo, levantamos a nossa casa em terreno alheio... 
- Que coisa! E aí?! 
- E aí que eu entrei em parafuso! 
- Não é pra menos. 
- Mas, esfriei a cabeça e localizei o proprietário do lote. 
- Falou com ele? 
- Falei. Perguntei se ele me venderia o terreno. 
- E ele? 
- Disse que não podia, porque o havia comprado como investimento para a filha. 
- E você? 
- Pedi para falar com a filha, é claro. 
- E ele? 
- Disse que não adiantaria, pois ela só tinha dois anos de idade. 
- Vixe... 
- Aí, eu gelei. Mas me deu um estalo e resolvi abrir o jogo. 
- Êita... 
- Abri meu coração e disse que tinha investido tudo o que eu tinha na casa e que agora eu estava nas mãos dele. 
- E ele? 
- Ele me perguntou qual era o meu lote e eu disse que era vizinho ao dele. 
- Que mais? 
- Eu perguntei quanto ele queria pelo lote e ele me surpreendeu! 
- Como? 
- Disse que não me venderia, mas que eu fizesse a permuta dos lotes. Desde que todas as custas cartoriais corressem por minha conta! 
- Que cara bacana! 
- Demais! 
- Tá vendo como ainda tem gente decente no mundo?!
- Pois não é?! 
- É, pensando bem, a humanidade ainda tem jeito.
- Claro que tem! Taí uma prova disso!

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