Aconteceu em
meados dos anos 1990. Eu estava com uma turma, no bar da Trombose, em Orós,
quando um viajante chegou em uma bem conservada Belina. Sentou à mesa, pediu
uma cerveja e, antes de começar a beber, foi interrompido pelo desajuizado Damião, ilustre
lavador de carros da cidade.
- E aí, meu patrão, bora dar um trato na
Belinazinha?
- Quanto é o serviço?
- A lavagem e limpeza é só 2 couro de rato...
- Dois reais?
- É...
- O serviço é bem feito?
- Bem feito e caprichado...
- Então, taqui a chave, arroche no serviço e
quando terminar me avise.
- Pode deixar, meu patrão...
Conversa
vai, conversa vem, no maior gosto, o tal do viajante não parava de falar sobre
o zelo que tinha por sua camioneta.
- Essa minha Belina é uma belezura... Uma
raridade...
- É nova que só. Parece até que acabou de sair da
concessionária. Comentou Zé Omar.
- Ah, ela chama atenção por onde passa.
- Qual é mesmo a marca dela? Perguntei.
- É uma Belina II LDO, sete nove, cor bege,
interior monocromático, pneus novos, nunca teve a necessidade de um retoque, um pingo de solda...
- Beleza... - comentou Eliseu Filho.
- Radio toca-fitas Roadstar auto-reverse, painel
auxiliar com termômetro, pressão de óleo e amperímetro de época, conta-giros...
- Completa... - comentou Picareta.
- Carro fino para colecionador!
Lá pelas
tantas, Damião apareceu.
- Pronto, meu patrão.
- E aí, minha joia, terminou o serviço?
- Terminei, sim...
- Ficou bem feito mesmo?
- Totalmente!
E vendo o esforçado lavador, com o balde d’água seco e a flanela encharcada, o viajante puxou a
cédula de dois reais e falou:
- Taqui, rapaz, não vou nem checar o serviço.
- Precisa não, tá primeira...
- Lavou no capricho?
- Por dentro e por fora!
Foi quando
Picareta gritou: - "Chega
Eliseu Filho, que Damião verteu o açude pra dentro da Belina do cidadão!"
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