Quando a Governador Sampaio era a rua chique de Fortaleza, o ambulante Otelino alimentava um certo fascínio por Maria de Jesus, uma jovem senhora que tornara-se viúva antes do tempo.
Sendo de boa e tradicional família fortalezense, De Jesus era bem guardada que só. Portanto, tornava-se bastante difícil qualquer marmanjo furar o cerco composto pelo seu mal-encarado pai e corpulentos irmãos. Falar com ela, só de longe e olhe lá!
Daí, cheio de gracejos, Otelino pegava o seu tabuleiro de bem talhada madeira, assentava no quengo protegido por uma encardida rodilha e, espalhando simpatia, saía para o exercício da sua rotineira labuta. Descia a ladeira da Visconde de Saboya, caía pela Praça dos Leões, virava a direita mais a frente, na Governador Sampaio, e abria o seu reclame pelas portas das faustosas casas. Quando chegava na da mirada viuvinha, ele lampejava os olhos e assim propagava: - "Ovo e uva boa! É da melhor qualidade!"
Aí, os guardiões da viúva surgiam nas janelas e Otelino, com um anêmico sorriso, levantava o pano que cobria a mercadoria no tabuleiro, continuava: - 'Vai querer, freguês?!"
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