segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Surrealismo, cão e monstro


De quando em vez eu me pego matutando sobre a razão de, na Fortaleza dos anos 70, tantos artistas terem feito desenhos surrealistas em bico de pena, que, por sinal, eram de elevada qualidade artística. 

É certo que, para dar vazão aos sonhos e informações do inconsciente, no surrealismo o artista apaga a ideia da lógica instituída pelos padrões comportamentais e morais impostos pela sociedade e acende a sua infinda criação. Talvez, seja esse um dos caminhos para a resposta dessa minha inquietação. 

Aí, eu lembro que no inconsciente do meu processo criativo, entre sonhos, fantasias e emoções avessos à lógica, muito me influenciaram na expressão da minha produção surrealista as histórias do Cão da Itaoca e do Monstro da Lagoa Verde. 

Quando íamos passar o final de semana em nosso sítio Guajiru, na Parangaba da década de 60, seguíamos pela estrada do Gado, que cruzava a antiga Itaoca, e assim eu conheci o lugar. 

A Itaoca ficou famosa pelas assombrações do coisa-ruim tocando o terror em uma misteriosa casa, onde tirava os móveis do lugar, virava cadeira de cabeça pra baixo e fazia prato e talher voarem! Nada ficava quieto no lugar. Para despachar o tal capeta, levaram à casa um macumbeiro do Maranhão e até um padre pra exorcizá-la, mas, de nada adiantou. O arcano continuou até o tempo lhe aplacar. 

Não se sabe se a história do Cão da Itaoca foi ou não invenção de alguém, mas, o certo é que a lenda ainda persiste no imaginário do povo de lá. 

Posteriormente, lendo o jornal, no tempo em que as edições diárias só saíam às ruas no período da tarde, eu fiquei fascinado quando vi estampado em manchete de primeira página a crida aparição do Monstro da Lagoa Verde. No corpo da matéria, até retrato-falado da aberração tinha. Os que descreviam o monstro, afirmavam com todas as letras que, em tamanho e ferocidade, o bicho dava de cascudo e chulipa no escocês monstro do Lago Ness. 

Mas, como nem tudo para sempre é, o monstro viveu a sua fama até ser abatido por um grupo de desocupados da região, que pastorava todo o dia a Lagoa Verde. Atendendo ao chamado de resgate, os gloriosos bombeiros constataram que o “fabuloso” monstro não passava de um mixuruca jacaré, medindo pouco menos de meio metro. 

E assim, rimando, eu tomei gosto pelas coisas surreais em meus incontáveis desenhos iniciais.

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