terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Elvis, o noivo raparigueiro



Decididamente, Elvis era um rapaz que parecia saber o que queria! Tanto é que, no dia do seu noivado, falou para a sua prometida:

- Mozim, a gente vai casar, portanto, vou ser sincero com você...
- A sinceridade é muito importante para um relacionamento duradouro.
- Pois é, o que eu vou lhe falar é em respeito à família que iremos formar...
- Pronto, é isso mesmo: sinceridade e respeito!
- Mas, eu espero que você entenda a minha sinceridade e respeite as minhas vontades...
- Olha, você está começando a me deixar curiosa...
- Pois é, quero que você saiba dos meus gostos, para não se decepcionar depois...
- Olha, agora você está começando a me deixar preocupada...
- Bem, o que quero lhe dizer...
- Homem, diga logo!
- Bem, o que eu quero lhe dizer é que mesmo casado eu não vou largar a minha vida de raparigagem...
- O que?!
- Mozim, é que eu sou doidim, doidim, por rapariga...
- Ooolheee...
- Mozim, mas tem uma coisa...
- Tem o que, seu sem-vergonha?!
- Quanto mais rapariga eu tiver, mais as coisas eu vou lhe dar!
- Como assim?..
- Com o primeiro lote, você vai ganhar um apartamento de luxo, todo mobiliado, do jeito que você sempre quis...
- É?..
- No segundo, aquela Hylux que você tanto deseja. Full!
- Ãrram...
- No terceiro, aquela casinha de serra... Aí, depois, vem as viagens, começando logo pela excursão das três bandeiras...
- Sei... Mas, ei, isso é coisa que se diga para a sua futura esposa?
- É que não quero viver uma vida de mentiras...
- Vem cá Elvim, deixa de besteira, seu bobim...
- Sim...
- Eu vou poder comprar na butique que eu quiser?
- Vai, sim...
- Eu vou andar com muito dinheiro na carteira?
- Vai, sim...
- Elvim...
- Diga Mozim...
- Eu vou poder fazer o que quiser?
- Aí, depende...
- Bem, eu posso ser sincera com você?
- Pode, sim...
- Sabe, até pouco tempo, levar chifre era motivo de horror, tristeza, bebedeira e muita música de fossa tocando…
- E daí?
- E daí é que hoje se transformou numa coisa bem comum...
- Comequié?!
- É que todo mundo já sabe que, mais cedo ou mais tarde, vai levar...
- Agora, eu é que tô ficando curioso...
- É que quando alguém diz pra noiva ‘olha, tá bom e tudo mais, mas eu quero raparigar’...
- Que que tem?
- Seguinte. Você sabia que um tal dum deus grego era craque em trair sua esposa e, para enganar ela, ele se disfarçava de touro e passava em frente dela com um par de chifre enorme?
- E?
- A infame da mulher dizia que nem desconfiava que fosse seu marido... Assim, a história conta que o chifrudo era o traidor e não o traído, ó?
- E era?
- Era não, é! Pois, só depois de muito tempo aconteceu o contrário, do traído ser o que pega a fama de chifrudo.
- Quer dizer, então, que o corno sou eu?!
- É, mas se começarem a lhe chamar de corno, não ligue, não, porque: primeiro, você já sabe da história e, segundo, confia na esposa honesta que tem!

Há quem diga que Elvis acabou largando a ideia de manter-se como um raparigueiro de marca maior.

"Elvis, o noivo raparigueiro" é um conto de Totonho Laprovitera.

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