Já haviam inteirado alguns meses de Fortaleza, quando Rosália e Dedé, vindas do interior, foram à batalha na capital alencarina.
Emperequetadas, exageradamente perfumadas e com os cabelos arrumados à touca, mascando chiclete americano, as duas foram bater perna na Avenida Beira Mar.
O relógio marcava umas quatro horas da tarde, quando deram fé, um prateado Corcel II, placa de Recife, parou ao lado delas. Puxando conversa com a espilicute dupla, dois bem aparentados jovens pernambucanos se apresentaram, e não tardou o convite para irem almoçar em algum bom restaurante da cidade. Encantada, Rosália piscou os olhos, deu aquela quebrada de asa com o pescoço, e falou para Dedé:
- Mulher, que tal da gente ir ao restaurante do Nélson?
- Ah, lá a cozinha é maravilhosa e o ambiente chique que só. Respondeu Dedé.
- Então, vamos logo pra lá, que estamos famintos! Disse um dos jovens pernambucanos.
- Vamos logo, e vocês são nossas convidadas! Completou o outro.
De imediato, as garotas aceitaram o convite e se mandaram para o restaurante “Terrace Grill”, onde, ao chegarem, se mostrando, foram logo pedindo ao garçom da casa – pelo nome – uma bem posicionada mesa.
Bem abancados, com fartura, a dupla pernambucana começou a pedir drinques e diversas entradas. Era tanta abundância, chega rindo Rosália comentou: - “Meninos, vamos com calma, senão, desse jeito, a gente não vai aguentar almoçar, nem jantar...”
Conversa vai, conversa vem, os papos dos dois deixaram as meninas arreadas dos quatro pneus e mais o sobresselente. Aí, decidiram almoçar. Coincidência ou não, o quarteto pediu o que havia de mais caro no cardápio. Chegados os pratos, cada comensal se empanturrou com as delícias das comidas.
- Um legítimo manjar dos deuses! Disse um.
- Uma iguaria supimpa! Disse o outro.
- Uma delícia! Tanto a mistura, quanto a guarnição, estavam dez! Disse uma.
- Respeite a boia! Só o pitéu! Disse a outra.
Fartos, educadamente, os rapazes perguntaram se as moças estavam satisfeitas. Bastadas, então, solicitaram ao garçom sobremesa e cafezinho. Enquanto aguardavam, os dois pediram licença e foram ao toalete.
- Mulher, mas que achado esses dois, hein! Disse uma.
- Pois não é, nem parecem os fuleragens daqui, né? Rapazes bonitos, educados e, pelo visto, bamburrados! Disse a outra.
Mas, o tempo foi passando, passando, e os dois demorando a voltar à mesa.
- Mulher, será que aconteceu alguma coisa? Disse uma.
- Será que a comida fez mal e tão com dor de barriga? Disse a outra.
- Também, só faltaram se empanzinar.
- Ora, deixa, os bichinhos estavam era com fome...
Diante da prolongada ausência dos dois, Rosália e Dedé solicitaram ao garçom que verificasse o que estava acontecendo no toalete. O garçom foi, voltou e disse que eles não estavam lá. Chamado o maître, a falta dos dois foi esclarecida.
- Senhoritas, perdoem-me, é que nós não queríamos estragar a surpresa, mas os dois distintos cavalheiros já foram embora. Despediram-se elogiando bastante a cozinha e o serviço da casa, desculpando-se pela imprevista retirada, pois iam buscar a mãezinha de vocês no aeroporto, que estará chegando de Belém do Pará, para a festa de aniversário de 90 anos da avó, matriarca da família. E tem mais, disseram que haviam deixado com as moças o valor da conta, em espécie, e que o valor da gorjeta seria de 20%!
- Ah, cabras sem-vergonhas mentirosos! Disse uma.
- Xexeiros, isso, sim! Disse a outra.
Resumindo, raspando todas as suas preciosas reservas, Rosália e Dedé tiveram que pagar a conta! Indo e voltando, conferiram a dolorosa e a comissão foi mesmo de 10%, e olhe lá!
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