A gente sabe que o ato de consolar
convém para aliviar a aflição e a contrariedade de alguém. Ou seja, abreviando,
é o conforto dos macambúzios!
Pois bem, recentemente, eu fui
acometido de um mal da vista, o que muito me preocupou. Começou com aparições
de umas moscas volantes, pernas de aranha, nódoas ameboides com pontos negros,
mácula escura, flashes e coisa e tal. Precavido, meti o pé na carreira ao
Doutor Igo Enomoto, meu médico, e, diagnosticado o descolamento de retina, fui
operado de emergência. Na convalescência, o que mais me incomodou foi dormir de
bruços, com a cabeça posta bem para baixo. Uma agonia para quem tem facilidade
de entupir o nariz. No repouso, nada de ler, assistir televisão e usar o
computador. Quer dizer, fiquei meio que desplugado do universo cibernético.
Restou-me o bom hábito de ouvir música, programas de rádio – AM, que dou o
maior valor – e conversar ao telefone – o que não gosto de fazer.
Totonho Laprovitera e Chico Pio.
Em um dos meus primeiros dias de
repouso, tocou o telefone e era o meu amigo Chico Pio, meu parceiro em tantas
músicas. Ele, também convalescendo de uma cirurgia de vesícula, ligou para
me confortar.
- Paizim,
sabe o que é isso?
- Não,
Chico...
- É
pra gente pensar o que de bom uma vida saudável nos tem a oferecer...
- É?
- É!
Pra a gente cultivar bons hábitos e melhorar as amizades...
- Quais
amizades?
- Por
exemplo, tem um ali, que não vou nem citar o nome, porque você sabe quem é, que
eu quero é distância! O cara só traz coisa ruim pra gente... É muita energia negativa...
- E
é?
- É,
e fica se fazendo de todo bonzinho... Mas, tem nada não, a gente se protege com
orações, fé em Deus, e reage!
- Tem
rezado muito, Chico?
- Papai,
é o que mais tenho feito pra me recuperar da operação.
- Você
passou por maus momentos, não foi?
- Foi,
mas aprendi! Fui beber o litro de uísque todinho, que o Chiquinho me deu,
exagerei no tira-gosto de feijão, lá do Docentes, taí, deu no que deu!
- Mas,
você tá melhor.
- Tô,
na medida do possível. Já estou até fazendo umas caminhadas pelo corredor do
prédio, praticando umas flexões, uns movimentos de karatê...
- De
karatê?
- É,
paizinho, eu já estudei karatê...
- Não
sabia...
- Pois
é... E a sua vista?
- Chico,
eu ainda não estou enxergando direito, não...
- Mas,
não se preocupe!
- Não,
né?
- Não!
Olhe, Patativa do Assaré, nosso poeta maior, ficou cego e, nem por isso, nunca
deixou de escrever!
- Égua,
Chico!
- E
Luiz Gonzaga, o grande Rei do Baião, você pensa que ele enxergava direito? Era
ceguim, ceguim!
- Amigo,
respeite o conforto!
(Fotos: Totonho Laprovitera)