terça-feira, 31 de julho de 2018

Histórias de Newton

Newton.

Não tem quem não ria quando o Newton conta as histórias das suas passadas cirurgias. 

Ele diz que, sempre que o visitam, logo ao adentrarem ao quarto, olham para ele com pena, dão um sorriso sem graça e comentam: - “Mas, Newtinho, como você está bem... Nem parece que foi operado! Corado, tá com uma aparência ótima!” 

Com o peito latejando, sentindo-se um verdadeiro galeto de televisão de cachorro, arquejando, ele tenta dizer alguma coisa, mas a fala não sai. Aí, continuam: - “Não fale, Newtinho! Não fale, que dá gases!” 

Em uma das vezes que foi operado, Newton chamou o Dr. Gothardo para passar a noite com ele no hospital. Ora, além de ser excelente médico, era um amigo-irmão que ele adorava! Pois bem, quando tornou da anestesia, o Peru (o mesmo Gothardo) havia acabado de chegar. Newton tentou falar, mas não conseguiu. Com o dedo na boca Peru fez "psiii...” e, na humildade dos enfermos, o conformado paciente se calou. Avexadamente, Peru se ajeitou na cama de acompanhante e adormeceu profundamente. Newton não, pois os roncos do doutor não o deixaram dormir!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Cuscuz Paulista


Moro no Mucuripe, bairro que guarda as qualidades de lugar simples e de personalidade forte. Aqui, eu bem me sinto como se estivesse na Fortaleza de antigamente, pois os bons costumes são conservados, como, por exemplo, as cadeiras na calçada para boas rodas de conversa ao entardecer. 

Ao amanhecer, é comum ouvir um galo cantar, anunciando o nascer do dia. Pessoas em paz varrem suas calçadas e outras, tranquilamente, andam pelo meio da rua. Até parece cidade do interior. 

As bodegas vendem fiado, os bares somente à dinheiro e as mercearias ainda trabalham com a velha caderneta. Todos se conhecem e se tratam pelo nome – muitos apelidos – dão-se “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Pedem “com licença” e “por favor”, respeitam-se e se ajudam. 

Hoje, acordei com o costumeiro anúncio do vendedor ambulante, com aquele vozeirão de tenor alencarino, atroando repetidamente: - “Cuscuz Paulista! Cuscuz Paulista! Cuscuz Paulista!” Daí, pulei da minha velha rede e o chamei: 

- Freguês, aqui em cima, na janela! 
- Vai querer quantos? 
- Dois. 
- Muito bem... 

Avexado, desci à portaria do prédio para pegar o manjar e, enquanto ele separava os cuscuzes e eu folheava o pagamento, contando as cédulas de “couro de rato, puxei assunto: 

- O senhor mora aqui perto? 
- Longe... 
- Longe onde? 
- Barra do Ceará. 
- Vixe, de lá pra cá é chão... 
- De ônibus dá 13 quilômetros e leva uns 45 minutos pra chegar. 
- Quer dizer que você vem de ônibus? 
- Um pedaço, de ônibus, mas a maior parte à pé... 
- Pela distância, então, vale a pena vir vender por aqui, né? 
- Tenho uma boa freguesia por aqui, mas né só por isso, não. 
- E por que mais? 
- Doutor, se Deus quiser, um dia ainda moro neste Mucuripe!

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Desenho


"Prefiro desenhar pra falar. O desenho é mais rápido, e deixa menos espaço para mentiras." (Le Corbusier)

(Foto: Google)

terça-feira, 24 de julho de 2018

Sono e grana

Morfeu e Íris, por Pierre-Narcisse Guérin, 1811.

Toda vez que perguntam se “seu” Fransquim, velho morador da Praia de Iracema, passa a manhã inteira dormindo, ele responde: - “Ah, se fosse! Eu pego é cedo no serviço pesado com o Dr. Morfeu! 

Pra quem não sabe, na mitologia grega Morfeu é o deus do sonho. Por isso, quando uma pessoa diz “ele estava nos braços de Morfeu”, significa que esse alguém se encontrava em sono profundo, com bons sonhos, como se fosse ninado por esse deus. 

Sobre o assunto, lembro do artigo em um jornal do Sul, estampado em manchete com letras garrafais: “Falta de dinheiro abala sono da população”. 

Pois bem, voltando ao “seu” Fransquim, ele crê nos estudos científicos em que as pessoas que dormem mais tem maiores chances de ganhar mais grana. Assim, ele nos aconselha a darmos maior importância a uma noite bem dormida. 

E arremata: - “É Deus no Céu, dinheiro na terra, e o resto é fol-que-lo-re!”

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Floresta, do Círculo Militar

Nos anos 1970 os clubes tinham tantos atletas de basquetebol, chega realizavam torneios internos para dar oportunidade à todos de jogar. E, apesar de serem todos da mesma agremiação, as partidas eram bastante disputadas. 

Em 1972, no Círculo Militar de Fortaleza, a equipe do Floresta se destacou foi muito na competição. 

Da esquerda pra direita. Em pé: Jacu, Haroldo, Gugu, Bosco e Sabichão. Agachados: Fred, Grafite, Canário e Gladstone.

(Foto: José Rosa)

domingo, 22 de julho de 2018

Barriga branca


Diz-se barriga branca o homem sem autoridade dentro de casa, aquele sem pulso e dominado e mandado pela esposa. 

Pois bem, ontem eu ouvi “seu” Farnézio se queixar que era submisso, quer dizer, totalmente barriga branca! Que dona Noésia mandava e desmandava nele, ao ponto de controlar sua própria grana, dando-lhe apenas cinco reais para ele gastar por dia, enquanto ela não abria mão de suas repetidas excursões, em manjados pacotes de viagem. 

Daí, em uma hora de zanga ele perdeu a cabeça e reclamou da cruel sovinagem e dos descomedidos gastos da patroa. Aí, ela o aberturou e disparou: - “Meu amor, tem mulher quem pode! Não tô nem aí pro que você acha ou pode achar... E quer saber duma coisa? Depois que inventaram cartão de crédito, celular e mala de rodinha, toda mulher tem mais é que viajar! Ganhar o mundo!” 

Sentindo o sopapo, “seu” Farnézio engoliu a fala, murchou as orelhas e com o rabo entre as pernas, recolheu-se à sua insignificância.

sábado, 21 de julho de 2018

Intimidade estadudinense


É desse jeito! Quando Olival vai visitar o primo Donald, a assessoria da Casa Branca improvisa uma mesa para ele na Sala Presidencial. 

Naturalmente, Vaval não abre mão da companhia de seus dois adestrados cães de raça. 

(Foto: Little Brother)

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Curiosidade mórbida


Por que as pessoas tem tanta curiosidade mórbida? 

Há quem diga que é porque na morte as pessoas tem a plena consciência de que são iguais às outras. Nela, as pessoas comuns caem na real, estreitam a distância entre o que imaginam e a crua realidade da fragilidade da vida. na certeza da mortalidade, constatam que assim como os outros, são mortais. 

Aqueles que cultivam a curiosidade mórbida, geralmente, estão em conflito com a sua pobre e frágil existência humana.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Denise Mattar


No Espaço Cultural Unifor, eu, com a querida amiga Denise Mattar, no lançamento do catálogo da exposição “Da Terra Brasilis à Aldeia Global”, onde a sua palestra foi uma preciosa aula de curadoria artística. 

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quarta-feira, 11 de julho de 2018

Mentira


Há quem diga que as pessoas preferem acreditar em uma grande mentira do que em uma grande verdade. 

Bem, a mentira é a afirmação do contrário ao que é considerado verdadeiro. Ela se espalha sobre realidades e devaneios e, comumente, causa danos ao mentiroso e ao que se sente iludido com ela. 

Noutro dia, ouvindo dizer que "a mentira é uma grande história que alguém estragou com a verdade", lembrei do que a minha tia Lygia dizia: - “Mentira conveniente não é pecado.” 

Pois é, nos dias de hoje parece que assim como a verdade é absoluta, do mesmo jeito a mentira também é. 

(Imagem: Google)

terça-feira, 10 de julho de 2018

Que mania feia


Desconfiados de que estavam sendo xeretados por um desocupado araponga, às escondidas, dois amigos decidiram travar um diálogo telefônico citando o tal como "pessoinha mal resolvida". 

Não se sabe se a suspeita dos amigos procedia, mas, o cabra bisbilhoteiro deixou de falar com os dois e, ainda mais, passou a dar rabissaca para eles, em sinal de desprezo.

(Foto: Google)

domingo, 8 de julho de 2018

Vida

Goethe em 1828, óleo sobre tela de Stieler.

"A vida é a infância da imortalidade." (Johann Goethe, 1749-1832)

sábado, 7 de julho de 2018

Escritores e escritores


Hoje cedo, acordei matutando sobre a seguinte passagem.

Certa vez, no ponto do ônibus da Avenida Almirante Tamandaré, eu ouvi um senhor de idade avançada, que trazia à mão uma surrada edição do livro "Memórias Póstumas de Braz Cubas", de Machado de Assis, dizer: - "Existem escritores que escrevem para outros escritores e existem escritores que escrevem para leitores." 

Deles, naturalmente, eu prefiro os que escrevem para escritores e para leitores.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Rabissaca


A rabissaca é um desrespeitoso gesto de desprezo que acontece quando alguém, por algum motivo, para demonstrar desdém, tranca a cara, desvia o olhar sacodindo a cabeça para um lado – em tempo de quebrar o pescoço – vira as costa e segue em frente. 

Na maioria das vezes nervoso, é sinal de que uma pessoa mostra estar de mal com outra. Dependendo da ocasião e lugar que aconteça, pode ser acompanhada de uma típica vaia – aqui, em Fortaleza, com sonoridade alencarina – dada por populares que a testemunhem. É aquela velha história: “A canalha se diverte, mas não se distrai!” 

Comumente, a raiva de quem a pratica demora é muito a passar. Assim, não adianta nem tentar falar com quem lhe dê rabissaca. 

Em sua etimologia, rabissaca decorre da conjunção entre rabo e sacar.

(Imagem: Google)

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Pescador de sonhos


Sou pescador de sonhos 
nos mares das paixões, 
sou caçador ferido 
por pássaro perdido 
Sou viajante errante, 
sou cantador e cego, 
não vejo a luz do dia, 
nem a lua, nem estrelas 

Mas imagino a tua imagem, 
teu rosto jovem e puro, 
e do escuro tua beleza 
que me faz enxergar!

Totonho Laprovitera

terça-feira, 3 de julho de 2018

Prato feito


Típico da culinária popular brasileira, o PF (prato feito) consiste em: arroz; feijão; bife, carne moída, frango, linguiça ou peixe; salada; e batatas fritas. Às vezes, com direito a um ovo estrelado. 

Custando na faixa de 7 à 10 reais, o PF é perfeito para quem procura um prato comercial barato e bem servido. Apreciado em restaurantes de padrão mediano e baixo, afora bares e botecos, o consumo médio ideal de calorias para um PF adulto varia de 600 a 700 calorias por almoço. 

No restaurante “O Garfo”, ali na Rua Major Facundo, no Centro de Fortaleza, serve-se um concorrido PF apelidado carinhosamente de "Emília", devido à cortesia da casa de um fumegante e loiro macarrão esparramado por cima do prato, que é mesmo que tá vendo a cabeleira da tagarela boneca-gente de pano, do Sítio do Picapau Amarelo, da obra infantil de Monteiro Lobato.

domingo, 1 de julho de 2018

Plena lucidez


Ouço música... 

Quando alcanço a plena lucidez, eu atino o momento além da minha existência. Pairo na abrangência de meus limites, guardados ao espio das almas que a memória abriga os que fazem parte da minha história. Assim, o tempo se esparge em vários sentidos. 

Na viagem das horas eu clareio universos, hipnotizo meus medos e me aporto no repetido eco das imprecisas ondas. 

Às minhas oiças, uma musa fala de um lado, enquanto um coral canta de outro. Falam na minha mente o que as palavras não sabem dizer. Números contam uma sequência de sentimentos no medievo circo que desafia as impossibilidades que os postos conhecimentos impõem. 

Ah, musical madrugada, toque o piano da minha vida que eu quero, preciso, sonhar! Oh, misterioso sopro, navegue-me nas marés da imaginação dos desejos que me embalam!

E que a realidade não me acorde do sono que me faz voar no numinoso pensamento da sombras insanas! 

Pensando bem, é tão ingênuo ser feliz...