domingo, 26 de novembro de 2017

Totonho Laprovitera na ACLJ


Totonho Laprovitera assume a cadeira nº 38 (Patrono Cláudio Pereira) da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. 

Discurso de Totonho Laprovitera:


Orgulho-me de fazer parte desta honrada instituição, como membro honorário, desde 2015. De lá para cá, de maneira plena, sempre tenho procurado participar de seus projetos, de suas ações e de sua história.

Nestes anos, tenho sido aprendiz de todos os confrades – e confreiras – vivenciando e compartilhando exercícios de saberes unidos às práticas do bem.

A companhia e o convívio com personalidades distinguidas no âmbito da cultura, das artes e da intelectualidade cearense, significam para mim que os verdadeiros inteligentes são humildes e acessíveis à partilha da mais legítima preciosidade de um ser humano: o conhecimento!


Estou muito feliz nesta tarde-noite! Ocupar a Cadeira de No. 38 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, cujo patrono é meu saudoso amigo Cláudio Roberto Abreu Pereira, significa desempenhar a alta responsabilidade de quem acredita na imortalidade dos viventes através do afeto entre as pessoas queridas. Até hoje aprendo com Pereira. E sempre haverei de aprender, ora!

Tratar bem a todas as pessoas, sem diferenciá-las por suas naturezas e importâncias; ser colecionador de amigos e conservá-los, acolhendo-os com as suas virtudes e os seus senões; levar a vida de maneira simples e com muito bom humor; enfrentar os nossos desafios, levando em conta que a nossa razão maior é a de vivermos felizes.


“Camarero, um rum!”

Pereira, para mim e certamente para os incontáveis amigos seus, jamais morreu. Com sua alma inquieta e bondoso coração, creiam, seguiu para os universos dos espíritos que se mantém eviternos na grandeza de luz dos mil infinitos.

Colegas, essa Cadeira de No. 38 me será “voadora”, pois nela viajarei céus e navegarei sonhos! Nela, desenharei com palavras a pintura de minhas expressões criativas. Nela, serei nós! Nela, seremos arte!

Muito Obrigado.

(Fotos: Rogério Lima/Baladain)

sábado, 18 de novembro de 2017

Babão


Mal trocou de lado na política – de oposição, passou a ser situação – Benito Adolfo já foi antipatizado pelos seus novos pares. 

- Olha aí o sujeito, já virou de lado! 
- É um tapioca! 
- Um cabra desse merece uma bofetada bem no mei da titela! 
- Pra deixar de ser besta, um tabefe no pé do ouvido! 
- Um bombom nos queixo! 
- No oi, pra ficar no anil! 
- Quer dizer que, mal conheceu o chefe, já carregou a autoridade no tuntum? 
- Na cacunda! 
- Em tempo de desmantelar o espinhaço... 
- De botar os gurgumie pra fora... 
- E o cabra é pesado que só... 
- E roçando os possuído no cangote do abestado? 
- Ô caba babão! 
- O fuleragem é capaz de tudo... 
- O pior é que essa negada dá o maior valor ser babada... 
- Sei não, vai acabar é dando o sedém! 
- É, liberando a velha tripa gaiteira... 
- Ô corra feia!
- Horríve!

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Na rede da vida


Na rede da vida
(Sérgio Sá / Totonho Laprovitera)

Bebemos do mesmo desejo,
saciamos do amor nossa sede,
dose dupla de gozo sem pressa, 
no calmo balanço da rede

Partilhamos de um mundo virtual,
sem qualquer distância entre os seres, 
misturando ternura e paixão, 
somos soma dos nossos prazeres

Por nobre ofício do artista,
que nenhuma esperança ignora,
nos atrai pelo som do futuro,
sem jamais nos prender no agora 

Vem se deitar 
na rede da vida, deitar 
na rede da vida, 
pelo amor que nos manda o coração 

Vem se deitar 
na rede da vida, deitar 
na rede da vida, 
antes que alguém nos desperte 
dessa real ilusão

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Tanto Chico

Na viagem ao casamento da filha do meu amigo-irmão Gaubi Vaz, reparei a quantidade de Franciscos convidados que iam pra lá. Daí, compus com Amaro Penna, o Peninha:



Tanto Chico
(Amaro Penna / Totonho Laprovitera) 

É tanto Chico
pra cuidar São Francisco 
É tanto Chico, 
Chico, Chico, xique-xique

É tanto Chico, 
Fortaleza à Recife
É tanto Chico
de Recife à Maceió 

É tanto Chico 
chega só conta por hora
É tanto Chico 
no casório Victor e Flora

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Sila

Ilda Ribeiro de Souza (1925-2005), a Sila de Zé Sereno. 

Na segunda metade dos anos 90, em uma noite guiada pela rica cultura nordestina, tive o privilégio de dançar uma única cantiga de forró com Sila, companheira do cangaceiro Zé Sereno. 

Lembro que essa passagem ocorreu por ocasião do lançamento de um livro sobre a ex-cangaceira – que nos tempos de Cangaço se perfumava com Royal Briar, usava pó facial Dorly e óleo de lavanda nos cabelos – no restaurante Maria Bonita, na Vila Pita, em Fortaleza.

Pois é, ainda hoje guardo na galeria de minha memória esse feito, que me é preciosamente histórico. 

(Fotos: Google)

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Oportunidades


A meu ver, três grandes oportunidades de um ser político: conhecer as pessoas; reconhecer a sua gente; e praticar o bem a todos. 

Parece simples, mas é difícil. 

(Foto: Totonho Laprovitera)

sábado, 11 de novembro de 2017

Modelo de Modigliani

Nu, de Amedeo Modigliani (1884-1920).

Modelo de Modigliani
(Totonho Laprovitera)

Modelo de artista, 
pintura de Modigliani 
O teu retrato 
com longos traços, 
nus e sensuais, 
desenho em poesia 

Entre suspiros, 
palavras mudas 
Em teu corpo 
eu me arrisco 
nas tentações 
dos meus desejos 

Que entre nós 
o amor nos seja 
a menor distância 
do que for preciso 
pra se chegar 
ao que está perto

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Nuovo Caruso!


Nell'angolo più musicale di Fortaleza, il megastar internazionale Olival Samplas, accompagnato alla chitarra di Piccolo Luigi Luna, interpreta "Dio, Come Ti Amo!", composizione di Domenico Modugno.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Dom Quixote de La Mancha

Dom Quixote e Sancho Pança de La Mancha, por Pablo Picasso.

“Poderiam perder-se todos os exemplares do Quixote, em castelhano e nas traduções; poderiam perder-se todos, mas a figura de Dom Quixote já é parte da memória da humanidade.” (Jorge Luis Borges)

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Assovio pra chamar vento


Era desse jeito e não sei explicar o porque da crendice, mas quando Maria, minha segunda mãe, assoviava para chamar vento, era tiro e queda: ele chegava!

Bastava um calorzim, aí era só fazer um fino “fiuuu...” e lá vinha o vento açoitar os finos cabelos de Maria. 

A ciência era certa e o assovio um bom sinal, mas usado banalmente, ela advertia: - “Faz isso não, nego véi, que chama cobra!” 

Aí, com medo da peçonhenta chegar e fazer um estrago dos grandes, eu me calava e assoviava só pela serventia de chamar vento.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Raimundo e Luiz


Raimundo e Luiz
(Totonho Laprovitera)

Eu hoje acordei 
ouvindo o silêncio 
da minha alma dizer: 
"A moeda da vida é o tempo"

Aí, vi o retrato 
de dois amigos a brincar 
de um querer ser 
o outro, a combinar

Se o beato já dizia 
que “o sertão vai virar mar 
e o mar virar sertão”, 
então, 
Raimundo pega a sanfona 
e Luiz o violão 

(Foto: Acervo Raimundo Fagner)

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Bicho


Apadrinhado pelo Bispo, o sacristão era meio tolo e, desde o início de sua formação religiosa, já se mostrava diferenciado. 

Uma vez, ao ser avaliado em arguição verbal, corrigido por não saber identificar a imagem de São Luiz Gonzaga, ele glosou: - “Lá vai, e quede a sanfona?!”

Outra vez, quando ajudava a Missa, bem na hora da Consagração, um besouro deu um rasante pela nave da igreja e foi cair ao pé do altar. Aí, o Bispo ordenou: - “Sacristão, mate o bicho!” Ora, o sacristão tomou o cálice das mãos do celebrante e, goela abaixo, entornou de vez o vinho todinho!

domingo, 5 de novembro de 2017

Aspirantes

Estádio Presidente Vargas, o PV.

De primeiro, as preliminares dos jogos de futebol no velho PV eram disputadas pelos times de aspirantes de cada clube. Isso era nos anos 1960, quando, de forma pacífica, as torcidas ainda se misturavam pelas arquibancadas, cimento especial e cadeiras cativas do Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza. 

Pois é, antigamente, era tão comum os times manterem a mesma formação por quase toda a temporada do campeonato, chega ficava fácil que só da gente decorar as suas escalações. Daí, decidiram realizar os jogos preliminares entre aspirantes (jogadores reservas), para eles terem a oportunidade de jogar, pois naquela época inexistia a Regra 3 do futebol, que permite substituições durante as partidas. 

Era desse jeito, naquela tempo em que eu dava o maior dez merendar um cai-duro, acompanhado de um geladíssimo Grapette. Depois, eu comprava do baleiro Ferrim uns drops para adoçar a boca e uns chicletes para balançar o queixo durante o prélio futebolístico. 

Ah, tinha também picolé, dindim, pipoca, rolete de cana, chegadinha, laranja, castanha caramelizada...

sábado, 4 de novembro de 2017

Arte!


Ao dar início ao meu processo criativo, desenhar e pintar sem saber o que, me dá muito prazer. É a poesia de idear na pintura figuras que se formam nas nuvens do céu da minha imaginação e desenhá-las, na ousadia de perpetuá-las. Ao invés de buscar a criação, é brincar de achá-la. Afinal de contas, a arte não me é apenas uma atividade. Ela é um sentimento lúdico de brincar a vida à sério. 

Os meus trabalhos contam um pouco da minha realidade e muito dos meus sonhos. Neles, encontro preciosos significados existenciais. Com eles, me misturo e vivo o sentido do meu numinoso ofício de artista!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Ararinha


A arara era chamada simplesmente de “Ararinha” ou, às vezes, de “Beijoqueira”, pois parecia emitir beijos. 

Alegria da família, Ararinha fazia por onde merecer tanto amor do seu dono Ricardo. Quantas vezes chegasse em casa, ainda no jardim, ela surgia e com o bico fazia “cafunés” na cabeça dele, como se piolho catasse. 

Porém, num fatídico dia, o cachorro de uma cunhada de Ricardo – que havia ido cruzar com a sua cachorra – estranhou a Ararinha e latiu para a casa suspensa dela. Assustada, a coitada pulou mas foi abocanhada fatalmente pelo seu algoz. 

Agonizando, Ararinha ainda sofreu por uma hora. Com inestancável sangramento, faleceu nos braços de Ricardo, em meio a muito choro de todos os seus. 

Ainda hoje, pela tremenda perda, o saudoso Ricardo guarda as penas de Ararinha por toda a casa. 

Ararinha viveu 28 anos, dos quais 25 na casa de Ricardo.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A internação


A família havia decidido internar Cosminho no hospital psiquiátrico. É que ele andava saindo de giro. Queimando graxa. Dando defeito. Improvisava uma banca na praça principal da pequena cidade e passava o dia todinho distribuindo ordens escrevinhadas em papel de caderneta, para os passantes que acabavam fazendo fila pra granjear sinecuras do excêntrico Cosminho. 

Então, Damiãozinho, seu irmão gêmeo, foi o escolhido pela família para a penosa missão. 

Cosminho não pôs dificuldade alguma para aceitar a sua internação. Disse concordar com o diagnóstico médico e a indicação de tratamento a ser submetido. Portanto, para seu próprio bem, iria de livre e espontânea vontade para o nosocômio. E assim, deu-se o sucedido. 

Chegado o dia e a hora, no caminho, Cosminho puxou conversa com o mano. 

- Damiãozinho, para um irmão, deve ser muito difícil fazer o que você tá fazendo comigo...
- É verdade, meu irmão...- Internar um irmão é uma incumbência sofrida... 
- Quero nem pensar nisso... 
- É constrangedor pro que se interna e pro internado! 
- É mesmo... (Marejando) 
- Bem, já que é assim, posso lhe pedir uma coisa?
- Pode, sim... (Chorando) 
- Já estamos chegando, então, deixa eu entrar na frente e me apresentar na recepção sozinho? 
- Tudo bem, Cosminho. Mas vou ficar daqui, de olho em você, pra depois chegar... (Soluçando) 
- Pronto, tá valendo. Fique aqui. 
- Fico. 

Feito o combinado, Cosminho se dirigiu à recepção do hospital e falou com a balzaquiana recepcionista: 

- Bom dia, senhorita.
- Bom dia. Em que posso lhe ajudar? 
- Bem, eu estou aqui para internar meu amado irmãozinho, que tem graves distúrbios mentais e teima em dizer ser normal e que o doido sou eu. 
- Eu entendo. E onde ele está? 
- É aquele ali que está nos olhando, encostado na parede. 
- Pois então traga-o aqui. 
- O problema é esse, moça. Ele é violento e não vai se deixar internar, pelo o que me cochichou agora há pouco. 
- Não se preocupe, senhor, temos enfermeiros fortes e capacitados para efetuar esse tipo de ação. 
- Por favor, não quero que o machuquem... 
- Não se preocupe, senhor, nossos profissionais são competentes. 
- Sei, sei... Mas não custa nada dar pra meu irmãozinho um sossega-leão e vestir uma camisa-de-força nele, né? 
- Pode deixar, fique despreocupado, que atenderemos as suas recomendações! 

E assim, muito a contragosto, desesperadamente revoltado, Damiãozinho foi internado à força e se esgoelando: - “O doido é ele! O doido é ele! O doido é ele!”