quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A virada


De alma andante e espírito curumim, em sonho, em um instante de encantamento com a constelação Setestrelo, o índio Alitá recebeu um divino chamamento para proteger os bichos do árido sertão cearense.

Aí, ele decidiu mudar de vida e foi viver em uma velha oca distante e abandonada, lá pelos cafundós do Vale do Jaguaribe. Porém, chegando ao seu destino, o bom índio assombrou-se ao ver que o lugar era refúgio de um bando de temidos cangaceiros. Para escapar de algum mordaz corretivo pela involuntária intromissão, tornou-se um deles e, pelo seu forte aperto de mão, virou o Capitão Arrocha.

Mas, não se adaptando ao modo de viver dos cangaceiros, batendo-lhe uma saudade medonha na calada da serena madrugada, Capitão Arrocha arrumou as trouxas e “capou o gato” de volta para o Mucuripe. Porém, arredio ao passar dos tempos, ao chegar encontrou uma Fortaleza crescida. Adotando os costumes locais, trajou-se de linho branco, assentou um chapéu de palha de carnaúba com longas abas no quengo e misturou-se com personagens típicos da cidade como Cabeção, Chagas dos Carneiros, Cheira-Dedo, Manezinho do Bispo, Mimosa e Zé Lapada.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A arte é mãe


Se Deus é pai, a arte é mãe. Assim, tornamo-nos irmãos e, em ação de solidariedade, praticamos o bem. 

Feliz por participar da exposição de arte beneficente com artistas cearenses, a favor do IBLF – Instituto Beatriz e Lauro Fiuza, para a manutenção das atividades com 600 crianças e adolescentes em situação de risco.

(Foto: Camila Lima)

Conchas de Fortaleza


Reza a lenda que o índio Alitá, pescador de uma pequena tribo do Mucuripe, há muito tempo cultivou o costume de presentear os bons visitantes com conchas encontradas à beira mar, em Fortaleza. 

Alitá acreditava que a concha tinha o poder de trazer o visitante de volta ao lugar para devolvê-la ao mar a que pertencia. Sendo devolvida, ele presenteava o visitante com uma outra concha e desse modo estabelecia um ciclo de infindáveis visitas. 

Acredita-se que esse seja um dos princípios do cearense ser chamado de povo hospitaleiro.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Menu Solidário


Hoje, dia 29/08/2017, às 19h30, no Sótao Moleskine acontecerá uma exposição de arte beneficente com artistas cearenses, a favor do IBLF – Instituto Beatriz e Lauro Fiuza, para a manutenção das atividades com 600 crianças e adolescentes em situação de risco. 

Rua Professor Dias da Rocha, 578 – Meireles, Fortaleza – (85) 3037-1700

Lembranças

Totonho Laprovitera - Inspiração, artista e musa - 2016 - Nanquim sobre papel - 29,7 x 42 cm.

Lembranças 
(Totonho Laprovitera)

Feliz criança eu fui 
No esquadro do meu olhar, 
minha casa era perfeita 
Tudo na medida certa 
existia naquele lar 
em que cedo eu bem vivi

Os adultos eram enormes 
e também se respeitavam 
Confiavam um nos outros, 
se gostavam, não se cobravam 
Facilmente, se perdoavam, 
logo se apertavam as mãos 

Hoje, lembro com saudade, 
como singela era a cidade 
O tempo não tinha pressa, 
possíveis os sonhos eram 
O amor sempre de graça 
e as paixões criavam mundos 

Os lugares, as pessoas
e a paz comum à elas, 
que tão bem eu convivi, 
juntam-me ao lindo passado, 
meu presente e o futuro 
para onde certo eu vou!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Paraquedismo


Certa vez, indagado pelo coronel Adelson Julião sobre a possibilidade de promover um campeonato de paraquedismo em Fortaleza, o jornalista Silvio Carlos, questionou: - “E como é que se cobra ingresso?!”

domingo, 27 de agosto de 2017

O lutador japonês

Yokanan, o "Demolidor Samurai".

A notícia chegou do Pará. Por aquelas bandas havia um aguerrido lutador que não perdia pra seu ninguém. Daí surgiu a ideia do ilustre jornalista alencarino Sílvio Carlos promover uma luta interestadual, tendo como desafiante o valente Tamiarana, que não abria nem pro trem!

Através de telefonemas interurbanos para o paraense, que se chamava Yokanan e se dizia japonês, Silvio acertou o desafio. Contratado, Yokanan iria de Belém à Teresina de ônibus e, de lá, seguiria até Fortaleza pelo voo de uma Avro, aeronave turboélice da Varig. 

Sendo assim, Yokanan desembarcou no antigo Aeroporto Pinto Martins, onde um grande público e imprensa o esperavam. Saudado como o “Demolidor Samurai”, no dia seguinte a origem étnica de Yokanan foi questionada no programa radiofônico “Antenas e Rotativas”, apresentado pelo brioso radialista Cid Carvalho, que comentou: - “Caros ouvintes, de japonês o lutador só tem o radinho de pilha e a sandália!” 

Chegada a hora da luta livre, a Fênix Caixeiral estava lotada até a tampa! Quando subiram ao ringue, os lutadores se cumprimentaram e ao soar o gongo se engalfinharam com mais de mil e gosto de gás! Aí, quando se afastaram um pouco, Tamiarana tacou um inesperado tabefe no pé-do-ouvido de Yokanan, chega ele foi à lona. Estatelado, caiu revirando os olhos puxados. Perdeu som e imagem! Após contar até dez, o juiz constatou o nocaute, deu a luta por encerrada e proclamou Tamiarana vencedor do combate, logo no primeiro assalto. A vaia comeu de esmola! 

No outro dia, em primeira página, o jornal “O Estado” noticiou o evento e comentou: “A luta se consistiu em dois assaltos, um no ringue e outro no bolso do torcedor!”

sábado, 26 de agosto de 2017

Amizade


Certa vez, para nunca mais esquecer, ouvi um velho amigo dizer: - "Para melhor cuidar dos homens Deus criou a amizade!"

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Bar


Muita gente frequenta mas não sabe que o primeiro bar veio ao mundo na cidade de St Albans, situada nas bandas do sul do condado de Hertfordshire, na Inglaterra, em 1539.

O termo "bar" surgiu em 1590 em razão da barra existente na base do balcão para apoiar os pés e evitar dos ciços se debruçarem e aporrinharem o barman.

Há também quem diga que o significado de bar tem a ver com a barra, aquela trave de madeira que servia para amarravam os cavalos nos saloons do Velho Oeste norte-americano.

No Brasil, os bares passaram a existir com a chegada da família real em 1808, que trouxe os costumes da Europa.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Gatão do Papicu


Para apurar a sua autoestima, Hermínio solicitou que Hildete, dedicada empregada de seu lar, anunciasse desse jeito a refeição matinal: - “O café está na mesa, Gatão do Papicu!”

E assim aconteceu até a doméstica parar de seguir a determinação do patrão. Estranhando tal descaso com a sua pessoa, em voz mole e trêmula, Hermínio indagou sobre qual a razão da mudez da servidora e ouviu de sua atenta esposa: - “Experimente botar o salário dela em dia...”

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Intelectual


Solicitado a autorizar um servidor da repartição para a realização de um determinado serviço em outro setor, o chefe disse que só o liberaria para ofícios intelectuais. Daí, o solicitante falou: - “Então dá certo, pois preciso de alguém para trocar uma lâmpada, que é símbolo de ideia!”

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Fogo no lixo


Onde eu moro, ainda se conserva o costume de varrer a calçada, juntar o lixo em montinho e tocar fogo nele. 

Pra quem não sabe, queimar lixo se configura em delito, conforme a Lei 9.605, dos crimes ambientais. 

No âmbito administrativo, devemos procurar o órgão ambiental local e protocolar uma denúncia de poluição atmosférica. No âmbito preventivo, quando botarem fogo, chame os bombeiros. 

É bom lembrar, ainda que botar fogo em materiais domiciliares, além de ser uma atitude de desrespeito a vizinhança, é um ato criminal e de desrespeito com o próximo e com o Planeta! 

(Imagem: Portal CG RN)

domingo, 20 de agosto de 2017

Parece que foi ontem


Há treze anos. Domingos Pontes (Domingão), Cid Gomes e Glauber Monteiro, enquanto prefeitos de Caucaia, Sobral e Canindé, respectivamente. 

(Foto: FB)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Hoje tem Chico Pio!


Em meados da década de 70, das antigas mesinhas da Beira Mar, eu já ouvia falar pelas brisas do Mucuripe de um cara que acontecia lá nas bandas do saudoso Bar do Anísio. Não tanto após, num show no Zé de Alencar, onde vários artistas se apresentavam – acho que era o da despedida do Canal 2 – ouvi um grito, seguido de assobios, pedindo por ele. Esse artista me causava curiosidade, lembro.

Tempos depois, nos encontramos e, numa saída com o Fagner e a turma toda, Naná Vasconcelos sugeriu a nossa parceria na arte da boa natureza de unir letra e música. Tornamo-nos parceiros.

Desse virtuoso compositor, hoje eu digo que ele é a sua própria arte. Quando abraça o violão, solta seu vozeirão, faz manar as mais variadas canções e dá até a impressão de ser fácil a faculdade de compor. Aprumado, se eleva aos sons, qual fera a cuidar do seu rebento. Todavia, simples e manso em seu ofício, constrói e desperta sentimentos! 

Pois bem, esse autêntico menestrel é o Chico Pio, amigo do peito e a quem digo: Tem artista que passa uma vida inteira tentando acontecer, o Chico acontece todos os dias! 

Totonho Laprovitera

Pôr do sol


Pôr do sol
(Totonho Laprovitera) 

Em rebento de aquarela, 
na risca do horizonte, 
com a derradeira luz do dia, 
Deus navega e anuncia 
a infinita arte da pintura
da natureza do pôr do sol 


(Foto: Totonho Laprovitera)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A casa do vizinho


Nos anos 90, projetei a residência de um casal amigo, quando tudo, com muito gosto, foi tratado cuidadosamente em cada mínimo detalhe da edificação, em um exercício arquitetônico sem par. 

Concluída a obra, como tudo que é bem planejado, a casa ficou quão projetada foi. Uma beleza de trabalho. 

Mas, meses depois, por acaso, eu me encontrei com o cliente e soube do grande rebu ocorrido: quando ele foi obter o “habite-se” da casa na Prefeitura, constatou-se que a mesma havia sido construída no lote errado! 

- Pois é amigo, levantamos a nossa casa em terreno alheio... 
- Que coisa! E aí?! 
- E aí que eu entrei em parafuso! 
- Não é pra menos. 
- Mas, esfriei a cabeça e localizei o proprietário do lote. 
- Falou com ele? 
- Falei. Perguntei se ele me venderia o terreno. 
- E ele? 
- Disse que não podia, porque o havia comprado como investimento para a filha. 
- E você? 
- Pedi para falar com a filha, é claro. 
- E ele? 
- Disse que não adiantaria, pois ela só tinha dois anos de idade. 
- Vixe... 
- Aí, eu gelei. Mas me deu um estalo e resolvi abrir o jogo. 
- Êita... 
- Abri meu coração e disse que tinha investido tudo o que eu tinha na casa e que agora eu estava nas mãos dele. 
- E ele? 
- Ele me perguntou qual era o meu lote e eu disse que era vizinho ao dele. 
- Que mais? 
- Eu perguntei quanto ele queria pelo lote e ele me surpreendeu! 
- Como? 
- Disse que não me venderia, mas que eu fizesse a permuta dos lotes. Desde que todas as custas cartoriais corressem por minha conta! 
- Que cara bacana! 
- Demais! 
- Tá vendo como ainda tem gente decente no mundo?!
- Pois não é?! 
- É, pensando bem, a humanidade ainda tem jeito.
- Claro que tem! Taí uma prova disso!

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Mãe Júlia

Mãe Júlia.

Hoje, dia consagrado à Nossa Senhora da Assunção, padroeira da cidade de Fortaleza, lembro que Iemanjá também é celebrada. 

Falar em Iemanjá, é recordar de Mãe Júlia – a mãe primeira da Umbanda no Ceará – personalidade de grande importância na peleja pela liberdade religiosa cearense.

Nos anos 50, Mãe Júlia (?-1984) guiou um terreiro de Umbanda no Bairro Benfica, quando juntou adeptos de crenças afro-brasileiras em uma associação – Federação Espírita de Umbanda, em 1954 – e ajeitou com as autoridades a liberdade de culto, combatendo a perseguição pela polícia aos praticantes da Umbanda.

Portuguesa de nascimento, Mãe Júlia era filha de Ogum. Do bem, destacou-se pela liderança e coragem de enfrentar os diversos desafios para a expansão da Umbanda em Fortaleza. 

Foi Mãe Júlia que começou a fazer as festas de São Jorge (Caboclos) e de Iemanjá na Praia do Futuro, quando era esburacada, sem urbanização e de difícil acesso. 

(Foto: Acervo de Mãe Stela)

Dr. Gaubi

Dr. Gaubi.

Assistindo ao vídeo com Dr. Gaubi e Cezzinha do Acordeon, na homenagem à Dominguinhos em Alagoas, matutei: Por ter praticado o ofício, São Lucas é o padroeiro dos médicos, segundo diz São Paulo aos Colossenses (4,14): “Saúda-vos Lucas, nosso querido médico”. E, além de médico, ele também era músico, pintor e historiador. 

Pois bem, discípulo de São Lucas, Gaubi é médico – “de homens e de almas” – cantor, músico e pinta o sete cometendo histórias de amizade. 

São Lucas, rogai por nós! Gaubi, cantai por nós! 

(Foto: David Almeida)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Tortora, Tortorella!

Totonho Laprovitera e o primo Pietro Guerrera, em Praia a Mare, 1994.

Já faz algum tempo. 

Hóspedes dos queridos primos calabreses Angelina e Pietro Guerrera, eu e Elusa passamos alguns dias em Tortora, ao sul da Itália. 

De Roma, desembarcamos na comuna de Maratea, à noite, onde de longe avistamos Pietro que já nos aguardava na estação ferroviária. De alinhado porte, ele trajava um longo e bem caído capote escuro e chapéu de massa de longas abas. Acompanhava-se de um atarracado auxiliar, vestido de jaqueta de couro marrom e boina inglesa. 

Firme e em silêncio, Pietro me tomou as malas e entregou para o assistente. Em sinal de boas-vindas, pegou-me pelos ombros e me beijou as faces, como reza a tradição calabresa. Respeitosamente, com um aperto de mão cumprimentou Elusa e nos conduziu até seu carro – um Fiat Uno de 4 portas, branco, com bancos recobertos de capa de malha azul estampada com simpáticas figuras de Mickey Mouse. 

Seguimos à Praia a Mare, domicílio dos Guerrera, onde Angelina nos aguardava para o lauto jantar por ela preparado, com deliciosas entradas, pratos e sobremesas. Para beber, um vinho de excelente qualidade, produzido em campagna de propriedade da família. 

Antes de tudo isso, Pietro sentenciou: - “Totó, tenho duas exigências a lhes fazer em nossa casa.” Curioso, perguntei quais eram e ele prosseguiu: - “A primeira é que vocês ocupem o nosso quarto, o principal da casa. Eu e Angelina iremos para um outro. A segunda, que vocês façam todas as refeições em nossa bendita cozinha, que é o lugar sagrado de nossa máxima familiaridade.” 

Acatamos a cultura familiar tortorese e nos sentimos em casa. Enquanto Angelina insistia em reforçar o passadio de Elusa – “Você é tão magrinha... Tem que engordar! Mariuce, sua sogra, ficará orgulhosa”, dizia ela – eu e Pietro enfrentávamos mais uma garrafa do caseiro vinho. E Elusa a repetir que eu sustasse a bebida, para não causar má impressão aos primos. 

Bem, no dia seguinte fomos à peixaria da praia comprar vongole e depois subimos à antiga Tortora, onde ao longo do sinuoso caminho me chamavam a atenção os suntuosos cartazes, com rebuscadas letras negras e douradas, de anúncio mortuário. 

Totonho Laprovitera, na histórica escadaria.

Chegando ao Centro Histórico da urbe, vi o silêncio tomar de conta das vias e praças. Nelas, serenamente, passavam as mulheres de luto fechado, ainda pelas perdas familiares da Segunda Guerra Mundial. Alguns curiosos chamavam o primo Pietro e, sussurrando, perguntavam quem eu era, o que fazia e o que eu queria por lá. Visitamos a casa da vovó Marianna e, sentado em sua histórica escadaria, fui fotografado em memorável retrato. 

No dia seguinte visitamos em uma das principais praças públicas de Praia a Mare o “Monumento aos Heróis da Primeira Guerra Mundial”, onde consta o nome de tio Angelo Laprovitera. De lá, fomos a um antigo bar da cidade, mas não ficamos porque a Elusa estava conosco e o estabelecimento não permitia a presença feminina. 

Para estender o passeio, seguimos à vizinha Paola, com direito a parar no “Il Brigante”, um conhecido entreposto de venda de souvenires. Quando estacionamos e descemos do carro, indaguei ao Pietro se seríamos breve no lugar, pois ele havia deixado o motor ligado. “Não, não, é que esqueci de desligar...”, e voltou ao veículo. 

Totonho Laprovitera - Tortora - 2004 - AST - 30 x 40 cm.

Por fim, retornamos ao lar dos Guerrera, afivelamos as malas e fomos à estação ferroviária de Praia a Mare. Emocionados, despedimo-nos do velho primo Pietro, embarcamos no trem e retornamos à Roma, já com a vontade de voltar à “Tortora, Tortorella!” 

(Fotos: Elusa Laprovitera)