sexta-feira, 1 de novembro de 2019

ÂNIMAS


"... A capacidade de captar as essências. Ânimas. Na contemporaneidade tudo é fragmentado..." (Aíla Sampaio)

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

FILÓSOFO DA MERUOCA

Olha, uma das melhores galinhas à cabidela era, sem dúvida alguma, a que eu costumeiramente comia na bodega do João Raul, na Serra da Meruoca. 


Pois bem. Certa vez, lá eu estava com o amigo Luiz Pontes traçando uma daquelas penosas, quando espiamos bastando ao balcão da casa o célebre filósofo daquele pedaço de chão: Toim da Meruoca!

Trajando a sua habitual e alva indumentária de pensador sertanejo, acudia-se do sol com o seu boné de sotaque inglês – presente do finado doutor Paulo Sanford – e óculos de carregadas lentes escuras em armação graúda – deixa do saudoso Zé Saboya. Pitando um palha, pediu uma lapada de cachaça, ofereceu a do santo e de uma golada só entornou o resto. De tira-gosto, só mesmo a passada de mão nos beiços. 

Aí, Luiz pediu para convidá-lo à mesa. Convite feito e aceito, cumprimentamo-nos e com ele já abancado, tacamo-nos a conversar:



- E aí, Toim, quais são as novas. – perguntou Luiz.
- Doutores, o mundo está ficando cada dia mais besta! E só tem um jeito para a salvação da humanidade. – respostou.
- E qual é? – tornou a indagar. 
- É caçarmos o real entendimento do tempo, pra começo de conversa.
- Como seria isso? – indaguei.
- Espie que o tempo não corre em uma única linha de anavantu e anarriê. Ele se espalha feito fogos de São João no céu do universo. É o mistério da eternidade...

Conversa vai, conversa vem, perguntamos sobre as riquezas de um povo.

- Doutores, primeiro de tudo, eu só boto fé em quem dá valor à sua cultura. Pois só assim se forma uma civilização. Agora, o fogo, o sal, os metais preciosos, os tesouros e as mercadorias, já valeram como riquezas de uma nação.

- E hoje? 
- Hoje, é a informação. 
- E no futuro?
- No futuro será a poder do tempo, a única moeda que não tem volta, não se recupera. Será o grande patrimônio de um torrão... 
- E vai parar por aí? 
- Não, pois o tempo não para! Depois, como “Senhor da Razão” que é, o tempo dará lugar ao afeto, esse sim, a maior riqueza da humanidade! O povo afetuoso terá uma abastança tão grande, mas tão grande, chega se não comprar a felicidade, vai trazer ela bem pra perto! 

O silêncio reinou, o horário parou e o filósofo Toim da Meruoca se despediu dizendo: - “Dá licença, doutores, que agora eu vou aproveitar essa jipada, pois ainda tenho um mote a tratar com um bando de meditação matuta na bodega do Antoim Baixim, bem ali no São Braz”. 

Pois é, como diz o filósofo, "pecunia opus ad potentes, divites pauper superbiae". Quer dizer, "os medíocres necessitam de dinheiro para serem ricos e arrogância para serem poderosos."

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

PODEROSA DRA. MEDEIA

Não tem quem possa com a pose da Dra. Medeia! Importante que só, não abre mão de cumprir sua lotada agenda pessoal. Em seus abonados dias de “virose”, “enxaqueca” ou “labirintite”, dizem, um é no salão de beleza pra cuidar dos cabelos e das unhas, outro é na depilação pra fazer a encruzilhada, aí tem as compras nas lojas de departamento e boutiques da moda, passeio no shopping da vez, merenda na padaria chique e por aí vai. Só quer ser as pregas. 

Na repartição onde trabalha, a vaidosa Dra. Medeia é a mandachuva! Respeitada e admirada por seus fiéis subordinados, se encastela em sua sala e tome conversa ao telefone! Afinal de contas, ela faz questão de estar com as fofocas em dia! 

Dra. Medeia se diz sem tempo para quase tudo! Portanto, quando decide enfrentar o corrido e pesado expediente de labuta, na correria, despacha apenas o que lhe apetece. Atendendo à austeríssima peneira, só recebe a quem lhe for do seu interesse. 

Há um bom tempo, Sitônio da Parangaba vem tentando resolver uma questão sua no juizado da poderosa Dra. Medeia. Após esperar a resolução do pleito há seis longos anos, o resignado cidadão mendiga a boa vontade da autoridade para assinar o já deliberado documento. Aí, ao pé do balcão de atendimento, depois de um “bom dia” ou “boa tarde”, o diálogo sempre assim se repete: 

- O senhor é parte ou autor da questão? 
- Parte interessada. 
- Qual o número do processo? 
- Este. – apontando uma folhinha de caderneta. 
- Um instante, vou consultar. 
- Grato. 

Depois de alguns minutos: 

- Pronto, ele está concluso. 
- E o que falta? 
- A doutora emitir o alvará. 
- E quando ela vai emitir? 
- Quando ela assinar. 
- E quando ela vai assinar? 
- Ah, aí eu não sei, mas, é assim mesmo. Todo processo demora. 
- Êita, né sendo avexado, não, mas, é que a causa já foi julgada, ganhei, fiz acordo, a outra parte não honrou... 
- Sei, sei... 
- Posso falar com ela? 
- O senhor é advogado? 
- Não... 
- Pois peça para seu advogado vir aqui que a doutora só recebe advogado. 
- É, tá difícil... 
- Mas, vou fazer o seguinte: vou deixar o processo na mesa dela. 
- Mais uma vez... – pensando, em silêncio. 
- É o que eu posso fazer. – continuou. 
- Tá bem, obrigado... 

E, mais uma vez, cantando Amor Febril, lá se foi o humilde Sitônio embora...

terça-feira, 29 de outubro de 2019

NA RADIOLA

Nos meus tempos de criança, lembro bem de uma história engraçada que contava o seguinte. Em uma festa modernosa, na radiola tocava o único disco da casa. Na mesma levada, em voz de taquara rachada, o arranhado elepê repetia: - “Papacu, papacu, papacu...” 

Aí, exaustos por tantas repetições, os reclamantes imploravam: - “Vira o disco, maestro!” 

O “maestro” ria e, sem desligar o aparelho, levantava o braço da agulha e virava o puído vinil, que tacava a tocar: - “Cupapá, cupapá, cupapá...”

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

CHICO ALEIJADO

“Não faço conta de tesouros que as traças e a ferrugem roam.” (Francisco Paraplégico) 

São muitas as histórias de Chico Aleijado, saudosa personalidade que se fez patrimônio histórico da cultura imaterial de Iguatu. Em Orós, lembro de duas. 

Uma delas foi quando Chico, com aquela angústia de ressaca braba ouviu do gentil Eliseu: - “Chico, bora tomar uma que mais tarde tem forró.” Chico mirou o amigo e respondeu: - “Eliseu, muito obrigado, mas não estou aguentando mais cachaça e eu não danço.” 

Outra, foi em uma programação no Tuninho. O acesso para o lugar é bem íngreme, coalhado de pedras e as cervejas eram carregadas em uma bacia de flandres. Na volta, alguém sugeriu assentar Chico na bacia, soltá-lo no rio e irmos esperá-lo lá na ponte. Outro teve a ideia de amarrá-lo em uma corda, soltá-lo no rio e o pegarmos mais a frente, onde o chão era plano. Também não quis! Discordando veementemente das alternativas dadas, descompôs todo mundo e sobrou para Zé Wilton subir a ribanceira com o cevado, lambido e liso amigo na cacunda.

domingo, 27 de outubro de 2019

AJUDA PRO ALUGUEL

Aconteceu na cidade de Sobral, no Ceará. Em uma alinhada festa de aniversário, dona Oudaleia foi abordada por Jajá, amigo de adolescência, hoje um comerciante muito bem sucedido na região, que já havia entornado todas: 

- Oudaleia, Oudaleia... Dadá, da nossa época, você era a mulher mais bonita de Sobral... – declarou-se. 
- Arram... – de boca cerrada e olhando para as próprias sobrancelhas, respondeu Oudaleia. 
- E eu... Bem, eu era muito, mas muito apaixonado por você... – com a voz toda melosa. 

Benjamin, esposo da cortejada senhora, ao lado, espiando e escutando a arrumação daquela declaração de amor recolhido, nada falou e decidiu esperar até onde iria a ousadia do galanteador. Aí, bastante lisonjeada e em meio à embaraçosa situação, Oudaleia apresentou um ao outro: 

- Benjamin, Jajá. Jajá, Benjamin. 
- Benjamin, muito prazer. 
- Jacinto Pinto Aquino Rego... 
- Vixe... 
- Mas pode me chamar de Jajá. 
- Jajá é melhor, né? – rindo. 
- Serafim... 
- Benjamin. 
- Ô, desculpe. Benjamin, eu vou lhe revelar uma coisa e espero que você não fique com ciúme, viu? 
- Viu. 
- Tudo bem? 
- Desembucha. 
- Bem, quando era pixote, mais liso do que muçum ensebado, eu paquerava com a Dadá, mas não tinha a menor condição de chegar nem perto dela. 
- Era, nera? 
- Hoje, muito bem de vida, confesso que se ela não fosse casada eu me candidataria à marido dela! 
- Jajá, não leve a mal, não, mas diante dessa declaração, tem como você liberar uma ajuda pro aluguel?!

sábado, 26 de outubro de 2019

AVENIDA DE MUCURIPE


Deu no jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, em 1952: 


"Empreendimento de alta significação, constrói-se em Fortaleza, uma grande artéria urbana, a Avenida de Mucuripe. A bela capital cearense contará em breve para gáudio de sua ordeira população com a maior artéria urbana, jamais construída em qualquer cidade do Norte do pais." 


(Fotos: A Noite)

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

DANAÇÕES DE ANTIGAMENTE


Na Sobral do começo dos anos 60, o danadíssimo menino Kiko Paula Pessoa pegava bochecha no trem da linha férrea para Fortaleza e, quando passava pela Ponte Othon de Alencar, ele subia na capota de um dos vagões da composição e saltava sobre a linha de alta tensão, tibumgando em espetacular tainha nas águas invernosas do Rio Acaraú!

Pois bem, sobre a proeza, quando enredaram à dona Didita – santa mãe do pestinha – ela deu uma agonia e foi um deus-nos-acuda!

(Foto: Google)

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

FRANKENSTEIN OU O PROMETEU MODERNO


Considerada a primeira obra de ficção científica da história, “Frankenstein ou o Prometeu Moderno” é um romance de terror gótico com influências do movimento romântico, de autoria da escritora britânica Mary Shelley (1797-1851), quando ela tinha apenas 18 anos. 

Até hoje a história continua despertando interesse aos que se interessam pelos limites da invenção humana. Obcecado pela criação da vida, Victor Frankenstein saqueia cemitérios em busca de peças de cadáveres para construir a sua criatura. Mas, quando o bizarro ser ganha vida, é rejeitado por Frankenstein e parte com tudo para aniquilar seu criador.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

IDEIAS

Hannah Arendt em um retratao tomado em 1949.

“Nós todos sabemos que vamos morrer, entretanto sabemos que não nascemos para morrer, nascemos para continuar.” (Hannah Arendt)

Nascida Johanna, Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, das mais importantes do século XX.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

TEMPO VELOZ


Kartódromo Cesar Cals, Fortaleza, 1981. Manoel Macedo (com o filho), Tom Barbosa, Hybernon Cysne, Elano, Lucinho Carneiro, Marcos Rola, Inácio Barreira, Hiderlandson Peixoto, Alexandre Romcy e Ricardo Studart. 

(Foto: Acervo Roberto Costa)

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

PRAIA DO PEIXE


PRAIA DO PEIXE

Totonho Laprovitera

Olhos de ressaca quebram em ondas
na beira dos sonhos da Praia do Peixe
Em tantos vaivéns, derramadas na areia,
as marés não apagam o que nela marcou

Sinuosos desenhos de corpos despidos,
tatuados de amor e muitos prazeres
Saciados desejos de todos os sentidos
vivem nas memórias de luas, de sóis

Enquanto se espia o tempo passar,
sorrisos se estampam na boca da noite
A dona insônia decifra mistérios,
espalha guardados segredos de quarto 

Imagens tão vivas tecem universos,
sinais de saudade e de solidão
Amantes se acham pelas madrugadas,
suspiram e juram infindas paixões

Ah, vida viajante, nos faça brilhantes
nos céus de oceanos, estrelas do mar
Que neste mundo sejamos pra sempre
o que já nasceu para nunca morrer

domingo, 20 de outubro de 2019

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

TEOPISTO

Diziam os antigos que o popular Teopisto era tido como o cabra mais teimoso da cidade de Fortaleza. De tão teimoso, certa vez, ele chegou a matar um peru de cansaço em uma birrenta e demorada peleja de "glu-glu-glu". 

Em uma outra ocasião, ele foi da fala à mímica em um arranca-toco que travou e levou a pior com um valentão que não tolerava ser chamado pelo apelido de “Piolho”. 

Pois é, por ser uma pessoa que não concordava com a opinião de seu ninguém, ele ficou tão famoso, chega quando alguém emperrava com um outro, era comum ouvir: - “Para de ser teimoso, Teopisto!” 

Birrento todo, Teopisto foi batizado em homenagem ao mártir Teopisto – irmão de Agapito e filho de Ss. Eustáquio, com sua mulher Teopista – que morreu apedrejado em 110 a.C.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

DE PODER

Prefeito Evandro Ayres de Moura.

Escutada do amigo Lauro Chaves Neto, sobre sapiência, humildade e o “pseudo” poder dos ocupantes dos cargos públicos, a história a seguir conta uma leitura de vida que nos serve de lição e reflexão. 

Neto primogênito do Dr. Evandro, o então menino Laurinho seguia o avô prefeito, para onde quer que ele fosse na cidade de Fortaleza. 

Pois bem. Certa vez, em um episódio em que políticos, cabos eleitorais, Zés e Marias, asseclas e bajuladores de plantão se acotovelavam, fazendo fila para cumprimentar o prefeito Dr. Evandro, Laurinho comentou com o avô: - “Puxa, vovô, como o senhor é importante!” 

Dr. Evandro, sereno como sempre, com a simplicidade e clareza dos grandes homens de bem, sorriu e disse: - “Meu neto, importante é o prefeito, não eu. Quem ocupar este cargo, assim será tratado.” 

Servidor de carreira do Banco do Brasil, advogado e professor universitário, presidente do Banco do Estado do Ceará e deputado federal, Dr. Evandro Ayres de Moura também foi prefeito de Fortaleza, de 1975 a 1978.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

BALTÁ

Diziam os antigos que Baltazar era tido como o cabra mais mentiroso de Fortaleza. O lugar predileto para contar suas balelas era a mercearia do “seu” Napoleão, defronte a Praça da Lagoinha, onde existia um dos mais disputados jogos de bilhar da cidade. 

De tão mentiroso, quando alguém faltava com a verdade, “seu” Napu protestava: - “Desce daí, Baltá!”

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

A RESPOSTA DE LILIU

Totonho e Liliu.

Granja fica na margem esquerda do Rio Coreaú, pelas bandas do noroeste cearense, vizinha às cidades de Bela Cruz, Barroquinha, Camocim, Chaval, Marco, Martinópole, Moraújo, Senador Sá, Tianguá, Uruoca e Viçosa do Ceará. 

Pois bem, investigado sobre a sua variação patrimonial de bens, Liliu, ex-prefeito granjense, foi interrogado por uma austera autoridade do judiciário: 

- Senhor Eliezer... 
- Pois não. 
- Senhor Eliezer, o que o senhor tem em seu nome? 

Liliu pensou, pensou, ajeitou os óculos, arrumou-se na cadeira, deu uma volta no pescoço, pigarreou e, todo sério, firme respostou: - “Quatro vogais e três consoantes!”

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ASA DELTA

Em meados dos anos 1970, em Fortaleza, a moçada de férias não perdia um dia sequer de praia no “Oi da Pedra”, defronte ao clube do Náutico. Na época, as meninas pudicas trajavam maiôs, as bem-comportadas “duas peças” – vindo do “engana mamãe”, que de frente parecia maiô, mas de costas um biquíni – e as “pra frentex”, biquínis – alguns, pasmem, de croché! 

Aí, as peças foram diminuindo de tamanho, diminuindo, veio a tanga, até chegar a precursora do “fio dental”: a cavada “asa delta”! Ah, “asa delta”... Lembro demais de duas exuberantes garotas desfilando seus atributos pela praia. Com elas, arrancavam suspiros dos marmanjos e excitavam os imberbes que costumavam manufaturar seus prazeres através da imaginação. Em movimentos espontâneos, sincronizavam seus passeios sem fim, provocando olhares dos varões cobiçosos e invejosa censura do mulherio apoucado. 

Uma era loura, a outra, morena. Naquele paraíso, pra cima e pra baixo, as duas sensualizavam suas exuberâncias de maneira natural, na candura de uma Eva a desconhecer o pecar. De olhos grelados nelas, sempre aparecia um Adão para lhes oferecer a derradeira maçã daquele éden. Enroscada no tronco do mais frondoso cajueiro do lugar, tesa a serpente sugeria que o bom da vida residia na desobediência aos princípios dos seus. 

Nunca mais vi aquelas duas beldades – imagino-as hoje distintas senhoras – que encantaram uma geração inteira maravilhada com revistas masculinas de natureza sexual, de conteúdo considerado ingênuo para os dias de hoje.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

BACON

O provérbio ”se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé” não pertence a nenhum texto sagrado islâmico. 

Ele integra uma parábola criada pelo filósofo britânico Francis Bacon, que, se fosse cearense, seguramente seria chamado de “Chico Toicim”.

domingo, 18 de agosto de 2019

BESOURO VERDE

O meu primeiro carro foi um simpático Volkswagen 1200, ano 1962. Apelidado de “Besouro Verde” pelo meu irmão Gera, o veículo era um verdadeiro herói pelas ruas e avenidas descalças ou de pedra tosca da então menina Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. 

Nele, em meados dos anos 70, eu ia ao colégio e passeava pela cidade com a maior tranquilidade do mundo. Naquela época, o único perigo que me ameaçava era o de levar uma carreira de algum Tetéu (viatura do DETRAN), em busca dos imberbes sem carteira de motorista. No entanto, creiam, eu nunca cheguei a puxar 100 Km/h nele. 

Ô fusca amigo! Bastava o cheiro de gasolina para andar e só dava prego se fosse de pneu. E, invocado que só, na escuridão, quando eu o acelerava seus faróis aumentavam a intensidade da luz. E tem mais, se ele andasse só, certamente, à noite, iria diretinho ao Patinação Clube ou à então Praia do Futuro “Familiar”. Pense em um carro farrista e presepeiro! 

Saudade do Besouro Verde...

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

O ECO

“Seu” Toinho tinha fama de só contar bons causos. Aqueles reais, acontecidos... 


Pois bem, dizia “seu” Toinho que há muito tempo chegou um americano no Bar do Xiramba, em Sobral, no Ceará. Arrogante que só e cheio de conversa, sobre tudo que se falasse, com embolado sotaque o gringo dizia que nos Estados Unidos era muito maior ou melhor. Quer dizer, nada nem inchava ao que existisse pelas bandas de lá. Em pouco tempo, não tinha mais quem aguentasse a mania de grandeza do gringo. 

Certa vez, o americano tacou a contar que nada se comparava ao colossal Grand Canyon. Que era sem igual! Que, por exemplo, se alguém gritasse “três!”, o eco repetia “três, três, três...” por não sei quantas vezes. “Seu” Chiquinho, que não engolia gabolice de seu ninguém, achando a conversa abusada, não aguentou e mandou: 

- Pois, na Serra da Meruoca, aqui perto, bem no Açude do Quebra, tem um “canhão” mixuruca, mas que é mais interessante do que esse seu... – falando pausadamente e bem alto. 
- It can not be! More interesting? As? 
- Cuma? 
- Não pode ser! Mais interessante? Como?! – exasperado, exclamou o gringo. 
- O negócio é o seguinte. Se você gritar “três mais três!”, o eco faz “meia dúúúziaaa”! – tranquilamente, concluiu “seu” Chiquinho.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Eu Somos Nós


Pinturas e desenhos de Totonho Laprovitera 

Curadoria: Elusa e Fernando Victor Laprovitera. 
Produção: Elusa Laprovitera, Ivana Bezerra e Lilia Quinderé. 
Oficina de pintura no Lar Torres de Melo: Tota Batista. 

Inauguração: Quarta-feira, 27 de Março de 2019, às 20h. 

Local: Espaço Cultural Ana Amélia, Hotel Sonata de Iracema – Avenida Beira Mar, 848 – Praia de Iracema, Fortaleza-CE, CEP 60165-120 – Tel. (85) 4006-1600 


EU SOMOS NÓS 

Mostrar-me em desenhos e pinturas é preciso na arte de ser. É viver todos os significados da existência dos meus sentimentos, através de expressões que materializam ideias. 

Assim como viver, desenhar é correr o risco. Pintar é colorir um mundo em todas as estações, a partir de luas e sóis ainda em preto e branco. Desenhando, pintando e escrevendo, minha sina tem sido uma viagem de contar histórias. 

Nesta mostra, onde exponho recortes de meu itinerário artístico, honra-me a companhia de talentosos colegas artistas do Lar Torres de Melo, com os quais aprendo sobre a nossa maior arte: a de viver! 

Aqui, pois, convido todos à seguinte reflexão: Deus é Pai, a Arte Mãe, e assim somos irmãos para a prática do bem. 

Arte em minhas teias... 
Arde em minhas veias... 

Totonho Laprovitera 


Comentários sobre o artista: 

“Os desenhos de Totonho Laprovitera representam um grito em favor da humanização da cidade – já que as cidades, como as pessoas, tem um corpo cuja beleza depende exclusivamente dos cuidados e do carinho dos que a administram e dos que a habitam.” Fran Martins, escritor. 

“Os desenhos do Totonho são traços limpos. Estão ligados à palavra, à poesia, ao pensamento poético que existe em todo artista romântico. O coração das formas bate seu surdo rio na sensível corredeira de Totonho. O homem que vestiu meus versos no livro Carne de Pescoço. Obrigado, companheiro, o umbigo ficará.”  Ramalho, cantor e compositor. 

"Totonho Laprovitera é o que se pode chamar de um artista múltiplo. Com sua profissão de origem, a arquitetura, sempre procurou fugir do lugar comum dando um toque especial a seus projetos. Com três livros escritos na tradição do humor cearense encontrou eco entre seus pares onde é presença constante de alto astral e caráter. Parceiro de alguns dos grandes músicos cearenses tem marcado presença na arte de compor. Como artista plástico tem se qualificado em dar cores e vida a seus temas preferidos, principalmente ao que se refere ao universo nordestino..." Raimundo Fagner, cantor e compositor. 

"... Totonho Laprovitera, pintor que revela seu universo através de intensa luminosidade, cores distribuídas com raro equilíbrio - definindo os espaços e estabelecendo sua distribuição nas superfícies do quadro - possuidor de um traço dramaticamente dinâmico, suporte preciso à audácia da criação que - mesmo em sua universalidade - mantém-se aderente a uma nordestinidade que não se revela apenas em alguns temas descritivos, mas estabelece uma realidade plástica e poética, feita de infinitas sugestões, a partir da exuberância cromática à terna ironia dos títulos das obras, passando pelo equilíbrio dos volumes.” Franco Jasinello, crítico de arte italiano.