No início do Colégio Integral, nós, alunos pioneiros, éramos uns verdadeiros anjos no bom conceito de comportamento.
Extremamente inovador e a frente do seu tempo, o Integral foi o primeiro colégio de Fortaleza a substituir a lousa e giz por telas, retroprojetores e pincel para quadros. Salas com ar condicionado, acionamento da porta por sistema elétrico, piso escalonado, iluminação direta e indireta, sistema sonoro etecetera e tal. Na parte didática, reunia os melhores professores da cidade, fazia uso de apostilas próprias, projeção de slides, filmes e, para anunciar o resultado das provas, um enorme placar eletrônico no pátio contíguo a sua quadra. No lado disciplinar, o aluno tinha liberdade nunca dantes vista em nenhum estabelecimento escolar das bandas de cá. Respeitava-se o direito de ir e vir, era permitido fumar em sala de aula e a cantina disponibilizava merendas naturais. Isso tudo em meados dos anos 1970.
Mas, a história que vou contar é acerca de uma reunião do grêmio dos alunos do Integral. Sob a presidência do Sandoval, participavam: Lolô, Cariré, Cezinha, Cristiano, Jean, Pintinho, The Jorge, The Quinderes e eu. Quem se lembrar de mais, por favor, me diga.
Bem, aconteceu o seguinte. Pintinho decidiu consertar um chaveiro, usando como martelo a réplica da estátua do Laçador, patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, que havia na sala da diretoria do colégio. Eu, que no momento não tinha o que fazer, amarrei um cordão na estátua e toda vez que o Pintinho ia martelar, eu puxada e ele errava a batida. Uma vez, duas, três, quatro e, na quinta, rapidamente, Pintinho abusou da sua força e eu não puxei o cordão... Aí, aconteceu a desgraça: No duro golpe, a cabeça do Laçador apartou-se do seu corpo e rolou pelo chão!
Silêncio total. O medo pairou diante do sinistro. Mas, para reparar a situação, peguei a cabeça do Laçador e a coloquei bem aninhada entre o seu braço e a cintura. Achando ter resolvido o acidente, serenamente, fui para a quadra, assistir um jogo da Copa que estávamos realizando.
Mas, eu não contava com a entrega de algum cabueta, que foi correndo avisar ao Wellington, um dos diretores do Integral, sobre o ocorrido. Ora, não tardou eu ser abordado pela a autoridade escolar, de forma ríspida e desaforada:
- Francisco Antonio, você decepou a minha estátua do Laçador!
- Desculpa...
- Saiba que aquela estátua é um troféu que recebi em uma solenidade muito especial!
- Realmente, é uma peça muito bonita...
- Seu iconoclasta!
- Peraí...
- Peraí, o que! [trincando os dentes]
- O que significa iconoclasta?
- É aquele que pratica a iconoclastia!
- E o que é iconoclastia?
- É a ação de destruir imagens!
- Ah, sim, ainda bem...
- Ah, sim, e ainda bem por que?!
- Pensei que o senhor tivesse perdido a educação...
Resultado: Fui suspenso por uma semana. Agora, o Pintinho, não sei porque, escapou.