domingo, 21 de agosto de 2016

Coração valente


Mais brabo do que um siri dentro duma lata, Toinho era um dos meninos mais invocados no colégio. Ele não possuía compleição física graúda, muito pelo contrário, na média da turma era um dos miúdos. No entanto, seu forte gênio fazia com que ele se agigantasse até mesmo diante dos galalaus. 

Destemido que só, não abria nem pro trem! Além de enfrentar todos os seus antagonistas, o pequeno e valente Toinho ainda protegia alguns amigos. Um deles, o infante Chiquinho, que só queria ser o Guto, filho do Moacyr Franco, que fazia o maior sucesso na televisão com o quadro “Canta, mas não mente”. 

Falando em Chiquinho, uma vez, ao final da aula, ele arengou com um colega gordo que suava tanto, chega ensopava a camisa e, de quebra, guardava ceroto até nas dobras do cangote. A arenga incidiu no ato de Chiquinho rebolar um punhado de areia fina nos peitos suados da obesa criança, que partiu pra cima do arengueiro e só não o atropelou porque Toinho interveio, permitindo a fuga do amigo que, metendo o pé na carreira, capou o gato pra casa!

Outra vez, na hora do recreio, Chiquinho inventou de intimar com um colega grandalhão e foi um deus-nos-acuda. Depois do ritual de encaramento seguido de sopapos de ombros, traçaram com o pé um imaginário risco no chão, em que alguém deu duas cuspidas, uma de cada lado, para depois dizer: “Taqui a mãe de um, taqui a mãe do outro!” Ora, ligeiro, Chiquinho pisou na “mãe” do seu desafeto, os dois se empurraram e o pau troou. Enquanto, aos gritos, a plateia incentivava o arranca-rabo, algum canalha fez chover areia sobre os engalfinhados brigantes. Na sequência, rolando na briga de agarrado, o grandalhão conseguiu ficar por cima do Chiquinho. Aí, aproveitando-se do apaziguamento da turma do deixa-disso, Toinho conseguiu inverter as posições dos lutadores e Chiquinho, prevalecendo-se da privilegiada situação, abancou-se na barriga do opositor, ameaçou esmurrá-lo, mas, preferiu se amostrar, dizendo: “Ganhei a briga, agora, peça penico!” A galera foi ao delírio, o pequeno Chico foi aclamado vencedor, e a vaia comeu de esmola! 

O bom, é que depois das brigas, o máximo que acontecia entre as partes, era um menino ficar de mal do outro, coisa que não durava muito, não. 

(Foto: Google)

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