quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Faz sentido


Era uma vez um piau que achava que o aroma das manhãs era só dele. Aí, ele sentiu que o cheiro do mundo é de quem o respira.

Era uma vez um piau que achava que a lua podia comer. Aí, ela notou que o firmamento não podia alcançar.
Era uma vez um piau que achava que podia pegar o sol com a mão. Aí, ele notou que o sol não cabia em suas mãos.
Era uma vez um piau que achava que todas as cores eram dele. Aí, ele viu que as cores são dos olhos de quem as vê.
Era uma vez um piau que achava que todos os sons eram dele. Ai, ele ouviu que os sons são de quem os escuta.

E, duma vez, esse piau pegou um lápis e no papel traçou uma linha. Em nós, atou os cinco sentidos: o olfato, o paladar, o tato, a visão e a audição. E assim fez um desenho que acreditava ser apenas dele.

Um viu, outro viu, todos viram e o desenho tornou-se de todos nós.

(Ilustração: Duna loteada, luz e sobra. Desenho de Totonho Laprovitera)

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