sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O tremelique



Aparecida havia dito que não tinha cabra que desse no couro com ela, naquele forró. E tem mais, não existia quem fizesse novidade com ela, não, pois, “neste mundim de meu Deus, tá é pra nascer quem vai inventar o que ainda não lambisquei na vida”, falava.

Pois é, aí, chegou uma turma divertida e afeita a desafios. Dela, dois se combinaram na seguinte ideia: Quando o conjunto tocasse uma música que desse para dançar colado, Toinho tiraria a experiente Aparecida para dançar, enquanto Zezinho ficaria no comando do efeito especial. Assim que Toinho começasse a grudar, pinando na desfrutada senhorita, com o telefone celular, no bolso de frente da calça – ligado no toque no “silencioso” e no modo “vibrar” –, Zezinho faria a ligação telefônica. E assim foi feito.

Com a ligação, o telefone vibrou encostado bem na beirada da virilha da cidadã que, sentindo aquele volume dando tremeliques, num pulo de sobressalto nervoso, apartou-se e perguntou aos berros:

- O que é que é isso, home?! O que é que é isso?!..
- Cuma?
- Paixão, que maravilha de absurdo de escandilice é essa que você pissui?!

Com os dentes no quarador, Toinho ajeitou a calça pelo cós e respondeu:

- Você ainda não viu foi nada, princesa! É um bichim que até falar, fala!

"O tremelique" é um conto de Totonho Laprovitera.
(Ilustração: J. Borges)

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