segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Fred Figner

Fred Figner.

“De origem judaica, Frederico Figner nasceu em 1866, em Milewko, na então Tcheco-Eslováquia. Ainda muito jovem, migrou para os Estados Unidos em busca de ampliar seus horizontes, na ocasião em que Thomas Edison lançava um aparelho que registrava e reproduzia sons por intermédio de cilindros giratórios.

Fascinado pela novidade, adquiriu um desses equipamentos, vários rolos de gravação, e embarcou em um navio rumo a Belém do Pará, onde chegou em 1891 sem conhecer uma única palavra da língua portuguesa. 

Em Belém, começou a exibir a novidade para o público, que pagava para registrar e escutar a própria voz. O sucesso foi imediato e, de lá, Fred seguiu para outras praças, sempre com o gravador a tiracolo. Passou por Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador, até chegar ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, já falando a língua portuguesa e com um bom dinheiro. 

No Rio, abriu sua primeira loja, a Casa Edison, em um sobrado da Rua Uruguaiana, onde importava e revendia esses primeiros fonógrafos. Por essa mesma época, o cientista judeu Emile Berliner lançou nos Estados Unidos um equipamento de gravação que utilizava discos revestidos com cera, com qualidade sonora superior ao do aparelho de Thomas Edison. De imediato, Fred Figner pressentiu o potencial da nova invenção e transferiu a Casa Edison para uma loja térrea na tradicional Rua do Ouvidor, onde abriu o primeiro estúdio de gravação e varejo de discos do Brasil, em 1900. 

Comercial da Casa Edison, da Rua Uruguaiana.

Os primeiros discos fabricados por Figner utilizavam cera de carnaúba, eram gravados em apenas uma das faces e tocados em vitrolas movidas a manivela. Apesar das limitações técnicas, essa iniciativa representou uma verdadeira revolução para a música popular brasileira, que principiava, pois até então os artistas só podiam se apresentar ao vivo ou comercializar suas criações por meio de partituras impressas. 

Casa Edison, da Rua do Ouvidor.

O primeiro disco brasileiro foi gravado na Casa Edison pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, em 1902. Era o lundu ‘Isto é Bom’, de autoria do seu conterrâneo Xisto da Bahia. A partir daí, vários artistas começaram a gravar suas composições em discos que eram distribuídos pela Casa Edison do Rio e também pela filial que Figner abriu em São Paulo. 

A procura pelos discos cresceu tanto que, em 1913, Fred montou uma indústria fonográfica de grande porte na Avenida 28 de Setembro, Vila Isabel, dando origem ao consagrado selo Odeon. 

Selo Odeon.

Sendo um homem à frente do seu tempo, para coroar o sucesso nos negócios e refletir seu perfil empreendedor, Fred Figner construiu uma residência, hoje conhecida como a Mansão Figner, considerada um exemplo arquitetônico raro de ‘casa burguesa do início do século 20’. 

Mansão Figner, hoje.

Situada na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, onde atualmente abriga o Centro Cultural Arte-Sesc e o restaurante Bistrô do Senac, a Mansão foi utilizada por Fred Figner como hospital, em 1918, durante a pandemia conhecida como Gripe Espanhola. Apesar dele próprio encontrar-se acometido pela enfermidade, atuou como um prestativo auxiliar de enfermagem, transformando seu palacete em uma improvisada enfermaria de campanha que chegou a abrigar quatorze pacientes em seu interior. 

Fred era um homem generoso e solidário. Pela própria natureza do trabalho nas suas duas gravadoras, tornou-se amigo de muitos músicos e cantores de sucesso. Em uma época que antecedeu à criação da Previdência, ficou consternado com a situação de penúria que alguns desses artistas tinham de enfrentar ao chegar à velhice. Sensibilizado com esse triste drama social, não hesitou em doar o terreno, em Jacarepaguá, para a construção da exemplar instituição Retiro dos Artistas, que até hoje funciona. 

Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.

Em 1947, aos 81 anos de idade, Fred Figner faleceu. Em testamento, deixou substancial parte dos seus bens às obras sociais de Chico Xavier. O jornal carioca A Noite Ilustrada publicou editorial em que o judeu Frederico Figner foi honrado, post-mortem, com o merecido título de ‘O Mais Brasileiro de Todos os Estrangeiros’.” 

Fonte: Acervo de Antonio José Vieira de Assis.
(Fotos: Google)

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