sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Véi no quarto


Mais uma vez, o bem-sucedido Dr. Erisvaldo estava apaixonado. E era por menina bem novinha. No restaurante em que frequentava o bar, entre um uísque e outro, encaixado por inúmeros cafezinhos, bilava a sapeca garota que costumava se interessar por homens de mais idade. 

Mexida a sua vaidade masculina, Dr. Erisvaldo partiu para a conquista da pueril jovem. Para tanto, decidiu cometer um mise-en-plis – operação que consiste em prender em cachos os cabelos molhados para que mantenham o ondulado depois de secos –, para depois pintá-los de negro, escorrendo a tintura aos pelos peitorais. 

Realizada a guaribada, Dr. Erisvaldo convidou a moça para conhecer um luxuoso motel da cidade. 

- Querida Yasmin, quero que esse nosso primeiro encontro seja laureado pelo esplendor que a sua importância depreca. 
- Depreca? 
- Sim, princesa, o que pede com reverência. 
- Nossa, Eris, você fala tão bonito... 
- Imagino você como alguém que me fará muito feliz. Alguém especial, que me completa e dará sentido a minha vida. 
- Entendi... 
- É verdade que teremos nossos momentos de fragilidade, nossas discussões, mas, sempre saberemos sobrepujar todos esses percalços que venham a surgir no nosso caminho. 
- Isso... 
- Saiba, você me é uma diva! 
- Ei, meu nome é Yasmin... 
- Digo, uma musa, uma divindade! 
- Imagina... 
- Amo você! 
- Ô, amor... 

Composto o clima propício para o cavaco amoroso, Erisvaldo pediu licença e dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, voltar cheiroso e entregar-se aos sequiosos desejos da sua amada. 

Porém, ao abrir a torneira do chuveiro a água jorrou pegando fogo, ao ponto de fazer largar o negro de seus poucos cabelos. Regulada a temperatura da água, Erisvaldo terminou seu banho e, de toalha enrolada no cós, seguiu de volta à alcova. Ao abrir a porta do banheiro, formou-se uma cortina de cerração no escurecido quarto. Aí, assustada que só, não reconhecendo o nebuloso vulto que fazia-se Erisvaldo, em pedido de socorro, a menina tacou um grito: 

- Chega, Erisvaldo, me acuda, que tem um véi nu no quarto!

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