segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Juvenal, no Bar do Porfírio

Iran Ribeiro.

Este conto é do Iran Ribeiro.

Entre os diversos biritas que fequentavam o Bar do Porfírio na Gentilândia, o Juvenal se destacava pela famosa "presença de espírito".

Numa segunda-feira, por volta das onze horas, Seu Profírio estava no Centro fazendo compras e Dona Margarida (mais conhecida como Gaída, mulher de pouca conversa e que não vendia fiado e nem fazia serão pra ninguém) é que fazia o atendimento por trás do balcão do estabelecimento.

Já se contava entre seis ou sete biritas dentro do pequeno Bar do Porfírio, todos doidos para tomar a entradeira, mas, como na maioria das vezes, todos estavam lisos que só muçum ensaboado.

Entre eles, porém um pouco mais afastado, apoiado no balcão  e mirando um fiteiro que ficava logo ao seu lado, estava o Juvenal, tremendo mais do que bambu em vento forte e doido para tomar uma, mas num aparecia um cristão que pagasse a entradeira...

De repente, o Juvenal olha para o local onde estava a dona do bar e pergunta com a voz tremida:

- Dona Gaída, com minhas desculpas, mas que é isto que tá dentro desse bicho de vidro?

Dona Gaída responde:

- É doce de leite Juvenal, coisa que tu num gosta....

Dona Gaída, repete o Juvenal, este doce de leite é novim?

- Sim Juvenal, é novim, foi feito hoje, do leite de onte que talhou...
- Dona Gaída, a cuma é um doce de leite desse?
- É só cinquenta centavos Juvenal, coisa que tu num tem, pois se tivesse já tinha pedido uma pôde...
- Pois taí, Dona Gaída, vou querer um doce de leite desse, bota aí um para mim..

Dona Gaída botou o doce de leite e uma colher em cima do balcão, perto do Juvenal, e ele ficou ali, mirando o doce com cara de abestalhado, passado uns dois ou três minutos ele disparou:

- Dona Gaída este doce de leite é do mesmo preço da dose de pinga, NE?
- Sim Juvenal, é iguarzim o preço...
- Pois Dona Gaída, me arrependí da empreita, mas como ainda num bolí no doce de leite,  a senhora num quer trocar este doce de leite por uma dose?
- Tá bom, tá bom, Juvenal...
    
Dona Gaída tornou a guardar o doce de leite no fiteiro e botou uma dose de cana no balcão, perto do Juvenal...

De repente, ao olhar para a dose de pinga, o Juvenal abre aquele sorriso 1010... Pega a bicha, oferece a do santo e entorna, tudo de uma só vez, fazendo uma careta de espantar alma penada...

Passado uns dois  minutos o Juvenal se vira e sai na direção da porta do botequim e se volta quando ouvi o grito da Dona Gaída:

- Ei bichim... não vai simbora sem pagar a dose da cana não?

Juvenal se vira com a cara mais santa do mundo e diz:

-  Mas Dona Gaííííííída, eu num troquei a cana no doce de leite...
- Ahhh, foi isso mermo bichim, entonce vá tratando de pagar o doce de leite...
- Cumé qui é Dona Gaída, por que diabo tenho que pagar doce de leite, se eu não comi doce de leite aqui? Xô, tô indo é mimbora...

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