sexta-feira, 30 de março de 2012

O casamento da jumenta

Por Penha de Castro *


Quando seu Teobaldo se separou da mulher para viver maritalmente com Firminda, sua jumenta e companheira de trabalho, foi um escândalo. Virou até manchete de jornal. O casal ficou famoso e chegou ao ponto de receber um convite para fazer um filme, daqueles que não se pode assistir com a família reunida na sala.

O namoro começou por acaso. Teobaldo já atormentado com as apurrinhações de Clementina, sua mulher - queixava-se a Firminda, exímia secretária, especialista no ofício de puxar carroça. Firminda ouvia tudo com atenção e carinhosamente lambia as mãos do seu dono. Teobaldo retribuía o agrado, acariciando o lombo da companheira. Firminda já esperava com ansiedade por aqueles momentos de profunda intimidade e Teobaldo, durante a jornada de trabalho, já não batia com força na jumenta, temendo machucá-la ou magoá-la, o que poderia levar ao fim aquela bonita amizade.

Certa tarde, Teobaldo se deu conta que reparava em Firminda. Tinha um jeito faceiro e fazia charme ao tropiar. No povoado não havia jumenta mais bonita que Firminda.

Uma noite aconteceu. Teobaldo retirava os paramentos da jumenta, quando a viu assim, totalmente despida, encheu-se de desejo, aproximou-se com cautela e tocou lascivamente o corpo do animal. A jumenta, com um olhar de entrega, aceitou a carícia de Teobaldo e, dominados por uma força maior, renderam-se perdidamente ao amor, sendo assim todas as noites que se seguiram.Dentro de três meses, sem pestanejar, Teobaldo pediu o divórcio a Clementina e pôs a jumenta dentro de casa. Firminda deixou de ser empregada para assumir a condição de sócia-gerente nos empreendimentos de seu concubino.

Iam juntos a toda parte, exceto para a igreja, pois o padre não aceitava o amasiamento, ainda mais entre criaturas de espécies diferentes. À noite faziam amor até que o sono chegasse. Teobaldo era de uma fidelidade só!

Depois vieram as brigas, Teobaldo morria de ciúmes de Firminda. A molecada da região vivia tentando prevaricar com a jumenta, ainda mais após a bichinha ter ficado famosa. Muitos marmanjos e até homens velhos olhavam com desfrute para aquela formosa dama de quatro patas. Os outros jumentos, estes sim, nem escondiam suas intenções. Pelo contrário, as exibiam sem o menor pudor.

Até que um dia aconteceu o pior. Firminda estava pronta para procriar e Teobaldo a acompanhava para uma consulta ao veterinário.quando se aproximaram da clínica, um outro jumento, sentindo o cheiro que exalava do corpo de Firminda, afoitamente partiu para cima da mesma e a possuiu desavergonhadamente no meio da rua, na frente de todos e do atônito Teobaldo. Firminda relinchava de prazer, foi um escândalo!

Teobaldo não surrou sua companheira com a chibata como todos esperavam. Separou-se de Firminda, vendendo-a em um leilão (já que eram muitos os pretendentes). O pobre homem não voltou para Clementina e nem se casou com outra mulher. Dizem que anda por ai... De bar em bar, tomando pinga, contando para todos suas desventuras amorosas e maldizendo Firminda, aquela ingrata!

(Ilustração: Gustavo Saldanha)
* Penha de Castro Neto é poeta, escritor e compositor maranhense.

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