Quando seu Teobaldo se separou da
mulher para viver maritalmente com Firminda, sua jumenta e companheira de
trabalho, foi um escândalo. Virou até manchete de jornal. O casal ficou famoso e
chegou ao ponto de receber um convite para fazer um filme, daqueles que não se
pode assistir com a família reunida na sala.
O namoro começou por acaso. Teobaldo já
atormentado com as apurrinhações de Clementina, sua mulher - queixava-se a
Firminda, exímia secretária, especialista no ofício de puxar carroça. Firminda
ouvia tudo com atenção e carinhosamente lambia as mãos do seu dono. Teobaldo
retribuía o agrado, acariciando o lombo da companheira. Firminda já esperava
com ansiedade por aqueles momentos de profunda intimidade e Teobaldo, durante a
jornada de trabalho, já não batia com força na jumenta, temendo machucá-la ou magoá-la,
o que poderia levar ao fim aquela bonita amizade.
Certa tarde, Teobaldo se deu conta que
reparava em Firminda. Tinha um jeito faceiro e fazia charme ao tropiar. No
povoado não havia jumenta mais bonita que Firminda.
Uma noite aconteceu. Teobaldo retirava
os paramentos da jumenta, quando a viu assim, totalmente despida, encheu-se de
desejo, aproximou-se com cautela e tocou lascivamente o corpo do animal. A
jumenta, com um olhar de entrega, aceitou a carícia de Teobaldo e, dominados
por uma força maior, renderam-se perdidamente ao amor, sendo assim todas as
noites que se seguiram.Dentro de três meses, sem pestanejar, Teobaldo pediu o
divórcio a Clementina e pôs a jumenta dentro de casa. Firminda deixou de ser
empregada para assumir a condição de sócia-gerente nos empreendimentos de seu
concubino.
Iam juntos a toda parte, exceto para a
igreja, pois o padre não aceitava o amasiamento, ainda mais entre criaturas de
espécies diferentes. À noite faziam amor até que o sono chegasse. Teobaldo era
de uma fidelidade só!
Depois vieram as brigas, Teobaldo
morria de ciúmes de Firminda. A molecada da região vivia tentando prevaricar
com a jumenta, ainda mais após a bichinha ter ficado famosa. Muitos marmanjos e
até homens velhos olhavam com desfrute para aquela formosa dama de quatro
patas. Os outros jumentos, estes sim, nem escondiam suas intenções. Pelo contrário,
as exibiam sem o menor pudor.
Até que um dia aconteceu o pior.
Firminda estava pronta para procriar e Teobaldo a acompanhava para uma consulta
ao veterinário.quando se aproximaram da clínica, um outro jumento, sentindo o
cheiro que exalava do corpo de Firminda, afoitamente partiu para cima da mesma
e a possuiu desavergonhadamente no meio da rua, na frente de todos e do atônito
Teobaldo. Firminda relinchava de prazer, foi um escândalo!
Teobaldo não surrou sua companheira
com a chibata como todos esperavam. Separou-se de Firminda, vendendo-a em um
leilão (já que eram muitos os pretendentes). O pobre homem não voltou para
Clementina e nem se casou com outra mulher. Dizem que anda por ai... De bar em
bar, tomando pinga, contando para todos suas desventuras amorosas e maldizendo
Firminda, aquela ingrata!
(Ilustração: Gustavo Saldanha)
* Penha
de Castro Neto é poeta, escritor e compositor maranhense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário